No dia do casamento do único filho homem, Sebastiana Chiaretto recebeu a notícia de que sua outra filha havia morrido, num acidente de barco. Pôs todo mundo para correr e cancelou a cerimônia. A comida da festa doou para um albergue.
Era a segunda vez que a matriarca duvidava de sua fé. Já havia perdido a primogênita com 1 ano e meio. E aconteceu de novo, quando o filho também se foi, anos depois, num acidente de moto. Dos cinco, lhe restaram duas meninas.
As perdas não abalaram Bas ou Tiana, como era chamada. Sua força vinha da origem. A família de 13 irmãos deixou a província de Pádua, na Itália, e rumou ao Brasil no início do século XX. Vieram trabalhar numa lavoura em Descalvado, no interior de São Paulo.
Foi lá que conheceu um temporão de 1,92 m e tradição igualmente italiana. Em menos de um mês, prestes a completar a maioridade, se casou. Os dois se mudaram para Maringá, que nos anos 1950 tinha acabado de se tornar oficialmente um município.
Foram pioneiros na terra vermelha. Ele, como engenheiro da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, que planejou a cidade. E depois, como oficial de Justiça, no fórum local, onde ela era zeladora. Para ajudar na renda, Sebastiana criava ainda perus e porcos.
Chegar na sua casa era ser recebido com muita comida, fosse pão caseiro, café e bolinho de chuva ou massa ao molho de tomate. Só uma receita não dava de jeito nenhum: o nhoque. Faço de olho, dizia, para não dividir o segredo. Patrícia, a caçula, desconfia que tinha queijo parmesão na massa.
Aposentada, ora pintava quadros, ora fazia crochê —sem perder a velha mania de falar alto e misturar palavrões em português e em italiano.
Sebastiana morreu no dia 5 de junho, aos 86 anos, por decorrência de uma embolia pulmonar. Deixa as duas filhas, Patrícia e Carmen, cinco netos e três bisnetos.
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