O sujeito passava muito mal e despertou, em uma cama. Ao seu lado estava um índio seminu, de penacho, pele brilhosa e tanga, que o olhava com apreensão. "O que está acontecendo comigo? Será que estou do outro lado?", questionou, diante da cena inusitada.
O índio na verdade era João Pedro, o Pedrinho da Farmácia. Era Carnaval, e a insistência do homem que tinha cometido excessos em ser atendido apenas por Pedro acabou por adiar a entrada no concurso de fantasias daquele ano.
Como ainda persiste em muitas cidades pequenas do Brasil, o farmacêutico local de Brotas (a 246 km de São Paulo) era quase um médico de família, desses que visitam os acamados em casa para aferir seu estado e aplicar remédios.
Nascido em Jaú, Pedro chegou em Brotas no início dos anos 1970, para ajudar uma tia viúva na farmácia. Ficaria por lá e abriria a sua própria em 1977, sob o nome da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores.
Desde então, o estabelecimento já funcionou em diferentes lugares do centro e integrou algumas redes, mas sempre foi conhecido mesmo como a farmácia do Pedro.
No negócio, lapidou seus funcionários para atuarem nas diferentes posições da farmácia. Não à toa, o gerente está há 31 anos no trabalho. Outro, há 27. Um terceiro, 25.
O talento para formar equipes foi utilizado ainda no futebol —montou o time de veteranos da cidade— e na religião —organizou a Pastoral Familiar em Brotas.
Pela liderança que tinha, atuava como uma espécie de conselheiro na cidade.
Morreu no último dia 2, aos 63, em decorrência de um câncer no pâncreas. Deixa a mulher, Helena, as filhas Maria Fernanda e Renata Cristina, um neto e sete irmãos.
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