Nascido em Palmeira dos Índios, o filho de pai mascate e mãe dona de casa queria seguir os passos de um dos prefeitos da cidade no agreste alagoano —o escritor Graciliano Ramos. Ou ainda de Rui Barbosa, outro nordestino metido às letras, que dizia ter virado sua bíblia.
A família apostava no primogênito a formação bem quista de engenheiro. Só que Zé Melo não era dado aos números, queria ser jornalista, como os que admirava. Bateram o martelo em direito. Teimoso, foi morar no Recife e cursava direito de manhã e jornalismo à noite.
Trabalhou em ao menos dez Redações, entre elas a Gazeta de Alagoas, onde começou, e esta Folha. Mas sua paixão era mesmo a academia, na qual se consagrou um maioral.
Zé Melo revezava entre escrever livros, dar palestras, participar de bancas em programas de pós-graduação. E ainda ser professor emérito da USP e ir cotidianamente para a Universidade Metodista de São Paulo, onde coordenava a cátedra Unesco/Metodista de Comunicação.
Fazia também parte do conselho curador e era presidente de honra do Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação). Chegou a ter todos os seus méritos acadêmicos cassados durante a ditadura militar, período em que, exilado, trocou o Brasil pelos EUA.
Há cinco anos, lidava com o mal de Parkinson e até colocou um chip no cérebro para driblar a doença —os sintomas, porém, não impediam Zé de exercer as atividades de professor, pesquisador e jornalista.
Na capital paulista, nunca abandonou seu feijão de corda, a carne de sol e a tapioca. Também não perdia o hábito de comprar o jornal impresso todos os dias.
Nos últimos tempos, lia Folha, O Estado de S. Paulo, Valor e O Globo para sua pesquisa sobre a crise política e econômica no país. Mantinha caixas e mais caixas de recortes das notícias.
Nesta quarta-feira (20), aos 75 anos, sofreu um infarto fulminante. Deixou a mulher, Maria Silva, os dois filhos Marcelo e Silvana, a irmã, Maria José, três netos e seus vários orientandos.
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