Descrição de chapéu Obituário Raymundo Carlos Bandeira Campos (1940 - 2018)

Mortes: Professor e cinéfilo, desafiava alunos com títulos clássicos

Raymundão não hesitava em dar play num filme mudo ou preto e branco

Thaiza Pauluze
São Paulo

Um descompasso cardíaco impedia Raymundo de correr e jogar bola com as outras crianças. O menino nascido em Santos, no litoral paulista, não teve alternativa a não ser frequentar os cineclubes da cidade e dar uma chance à literatura. 

O professor Raymundo Carlos Bandeira Campos
O professor Raymundo Carlos Bandeira Campos - Arquivo Pessoal

Acabou tomando gosto. Aos 13, assumiu a função de office-boy para ajudar a família. Aproveitava o horário entre uma entrega e outra para devorar novos títulos.

Na maioridade, escolheu cursar ciências sociais na USP e anos depois ajudaria a fundar um dos colégios mais tradicionais da capital, o Equipe. Alçado a posto de diretor e coordenador, ele gostava mesmo da alcunha e do ofício de professor —de história e cinema.

Raymundão, para os íntimos, não hesitava em dar play num filme mudo ou preto e branco, desses clássicos difíceis de digerir para as gerações pós-MTV. Na lista, "O Encouraçado Potemkin", "Anna dos 6 aos 18", ou "M - O Vampiro de Düsseldorf" e "Nanook". A molecada comprava a ideia.

Em casa, longe do barulho juvenil, preferia o silêncio para escrever seus vários livros —alguns didáticos.

Rotina interrompida pelos almoços de família, regados a comida italiana e três garrafas de vinho. Era quando danava a falar sobre a ditadura militar, período em que docentes eram perseguidos e quando colegas seus foram presos.

Mas isso são outras histórias, diria ele, que repetia o bordão toda vez que já havia flanado por muitos assuntos.

O professor lutava contra um câncer de próstata há oito anos. A doença só o tirou das salas de aula há três semanas, quando se agravou, e o levou no dia 15 de junho, aos 77 anos. Deixa a mulher, dois filhos e dois netos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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