Descrição de chapéu tragédia dos sem-teto

Bebê morre após trabalho de parto em barraco de vítimas de incêndio em SP

Pai pediu ajuda, e criança nasceu dentro da ambulância a caminho do hospital

Famílias de sem-teto moram há mais de um mês em barracas no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo
Famílias de sem-teto moram há mais de um mês em barracas no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress
Martha Alves
São Paulo

Uma moradora do acampamento de sem-teto no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, entrou em trabalho de parto, e o bebê morreu logo após o nascimento, no início da noite desta quarta-feira (6). Um grupo de cerca de 30 famílias montou barracos diante dos escombros no local logo após o incêndio e desabamento do prédio do edifício Wilton Paes de Almeida, na madrugada de 1º de maio.

A gestante começou a sentir fortes contrações e entrou em trabalho de parto no acampamento no final da tarde desta quarta-feira (6). O pai da criança pediu ajuda a policiais militares, que acionaram o resgate. Um médico voluntário que estava próximo ao local prestou os primeiros atendimentos até a chegada do socorro, e ela foi levada ainda em trabalho de parto à Santa Casa de São Paulo.

O bebê nasceu no início da noite dentro da ambulância a caminho do hospital. Segundo a Polícia Civil, o médico notou que a criança estava roxa e aparentemente sem vida. No hospital, foi constatado que o bebê estava morto. A mãe permanecia internada.

A situação no acampamento é precária. Não há banheiros públicos por perto, e as mães enfrentam uma peregrinação pelos bares do entorno quando as crianças ficam apertadas. Na hora do banho, as mães também recorrem a outros prédios ocupados no entorno. 

Nesta quinta, o prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou que a gestante havia sido cadastrada pela prefeitura para receber auxílio-aluguel, no entanto, o poder público não pode obrigar ninguém a sair do largo em que o acampamento foi montado.

“A gente presta solidariedade antes de tudo: à mãe, Jacqueline, e ao pai, Rafael. O pai, inclusive, aceitou por um tempo o abrigo pela prefeitura. Não constavam os nomes deles no levantamento feito pela Secretaria de Habitação em março. Entretanto, eles foram autorizados a receber auxílio-aluguel, são uma das famílias que recebe a partir de hoje o auxílio", disse Covas.

"Gostaria de mais uma vez pedir a ajuda e a colaboração de todos para que a gente possa convencer todas aquelas pessoas a aceitarem o acolhimento. Aquela condição é a mais inadequada para que eles fiquem. A prefeitura não tem nenhuma autorização legal para obrigá-los a sair de lá”, completou.

Desde o incêndio e queda do prédio de 26 andares, quando sete pessoas morreram e outras 455 ficaram desabrigadas, segue indefinida de quem é a responsabilidade sobre o destino das famílias que se recusam a ir para abrigos da prefeitura e continuam acampadas diante dos escombros.

A Promotoria de Infância de Juventude do estado, por exemplo, a quem cabe acionar o Judiciário para resolver a situação das crianças que vivem em situação precária, demorou quase duas semanas para se manifestar. Quando o fez, na última segunda-feira (14), atribuiu o papel de avaliar o grau de vulnerabilidade das crianças aos conselheiros tutelares que atuam na região. Estes, por sua vez, relatam dificuldades em atuar em meio às famílias, que temem terem os filhos retirados a força pelos agentes.

O resultado disso é um jogo de empurra. As famílias recusam a ir para abrigos enquanto não receberem as primeiras parcelas de R$ 400 do auxílio-aluguel prometido a elas, a serem pagas pelo estado por um ano e depois pela prefeitura, até que recebam uma moradia definitiva. Não há, porém, prazo nem certeza do recebimento da casa.

Entenda aqui o que já se sabe sobre o desabamento de prédio em SP ​  ​

 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.