Por R$ 10, 'marmitão' atrai de funcionário a passageiro em Cumbica

Motoboys entregam quentinhas a quem quer fugir dos preços altos no aeroporto

Passageiros, funcionários de lojas e do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, compram marmitex para almoçar
Passageiros, funcionários de lojas e do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, compram marmitex para almoçar - Diego Padgurschi/Folhapress
Mariana Zylberkan
São Paulo

​​Quarta-feira, dia de feijoada, a marmita de R$ 10 fica um pouco mais cara no aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP). Mesmo assim, ninguém reclama, e as embalagens de isopor logo acabam. 

Dá para saber que se aproxima a hora do almoço porque chega a formar fila no embarque E do terminal 2. 

É onde os motoboys entregam as quentinhas a funcionários, motoristas de aplicativos que trabalham por lá e também alguns passageiros prestes a embarcar para seus voos e que se recusam a pagar caro para comer no aeroporto.

A maioria dos pedidos é feita por WhatsApp, por onde também é enviado o cardápio do dia aos clientes. Mas os motoboys sempre carregam algumas embalagens a mais para atender quem os aborda no terminal, sem ter feito a encomenda antecipada.

No caso, as opções são mais simples: frango à milanesa ou linguiça calabresa com arroz, feijão, salada e batata frita.

Entre os consumidores, alguns motoristas de Uber, 99, Cabify e táxi chegam a pedir a marmita de dentro do carro.

Pelo menos sete restaurantes instalados no município de Guarulhos abastecem os motoqueiros para levar as quentinhas ao aeroporto. O esquema existe há cinco anos, mas se intensificou recentemente, segundo os motoboys. 

“Com o preço de uma coxinha eu como arroz e feijão”, disse a vendedora de freeshop Jaqueline Vieira Cassiano, 28, adepta das marmitas.

Ela está certa. Lanchonete de uma rede de fast-food instalada no aeroporto cobra R$ 12,50 por três mini-coxinhas e um refrigerante.

No aeroporto também dá para comer um pedaço de pizza com refrigerante por R$ 39,90, uma salada por R$ 37,90 ou um prato de filé mignon, cauda de lagosta e um acompanhamento à escolha por R$ 107, valor de mais de dez marmitas vendidas por David dos Santos Silva, 18. Só ele calcula que vende cerca de 20 pratos diariamente no terminal 2.

O jogador de futebol Roni Silva, 17, comprou duas na última quarta-feira (20), antes de embarcar de volta para casa em Salvador, na Bahia. “Marmita é mais barato e eu como bastante, então vale a pena”, disse enquanto tentava partir o filé de frango com os talheres de plástico.

Diante da obrigação de alimentar dois ajudantes, o supervisor de elétrica Jaime Ferrari, 54, saiu pelo aeroporto à procura de marmitas antes de embarcar para Porto Alegre a trabalho. “Sei que é uma coisa que tem em todo lugar e é barato”, disse. “Se fosse comprar almoço para todo mundo aqui no aeroporto, iria ficar pobre”, afirmou.

A maioria abre a embalagem de isopor e come ali mesmo perto de onde os motoboys ficam, nos bancos de concreto. Os funcionários são advertidos se fizerem o mesmo, então dão as garfadas em refeitórios ou atrás dos balcões. 

Os motoboys dizem que as quentinhas saem mais no terminal 2, de onde parte e onde chega a maioria dos voos domésticos. Os pedidos começam a ser atendidos a partir das 8h, quando os funcionários que trabalham na pista do aeroporto podem sair para garantir o almoço de mais tarde. 

Apesar de frequente, o comércio ambulante de alimentos não é liberado no aeroporto. Oficialmente, é permitido apenas o serviço de delivery, ou seja, cada motoboy poderia atender apenas um cliente por parada. Para isso, eles explicam, teriam que dar uma volta de dois quilômetros no aeroporto em cada entrega. Assim, eles trabalham com um olho na máquina de cartão e o outro nos seguranças. 

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, afirma que a venda de comida nas calçadas é irregular e não pode ser realizada. 

Há preocupação também com a qualidade e conservação dos alimentos, que não podem ser vistoriadas ou garantidas pela concessionária. 

Em relação às reclamações dos preços cobrados pelos restaurantes, a concessionária ressaltou que aumentou a oferta de produtos para atender aos diferentes perfis de passageiros. Há um supermercado que funciona no desembarque doméstico. 

A negociação comercial de cessão de espaços no aeroporto inclui o pagamento de um percentual mensal sobre as vendas. Em um espaço de 77 metros quadrados, por exemplo, a concessionária cobra 20% do faturamento bruto, que deve ser informado à concessionária semanalmente. Há também um rateio cobrado das lojas para cobrir gastos de luz, segurança e limpeza dos corredores. 

O contrato de concessão firmado entre a GRU Airport e a Infraero em 2012 deixa a concessionária livre para determinar os valores e condições da exploração comercial dos espaços no aeroporto, que é um imóvel público pertencente à União. 

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