Ações contra camelôs acabam em confrontos no metrô de São Paulo

Após 9 episódios violentos, companhia diz que contratará novos agentes

Fillipe Mauro
São Paulo

O avanço do comércio ambulante no metrô de São Paulo e da fiscalização para combatê-lo resultou em uma escalada de hostilidade entre camelôs e seguranças e confrontos que assustam passageiros nas estações do sistema, que recebe mais de 3,7 milhões de usuários por dia.

Do começo do ano para cá, já houve nove episódios violentos, incluindo funcionários agredidos e ameaçados.

O mais emblemático, e que deixou diretores do Metrô em estado de alerta, ocorreu em uma sexta-feira de junho, dia 15, quando uma segurança foi apedrejada e espancada enquanto participava de uma operação de recolhimento de mercadorias na estação Vila Matilde, da linha 3-vermelha.

A agente, cuja identidade não foi revelada pela companhia, convulsionou e teve que ser levada às pressas ao hospital Santa Virgínia, no bairro do Belém, onde foi diagnosticada com traumatismo craniano. Seus agressores foram detidos, mas acabaram liberados no sábado (16), depois de uma audiência de custódia.

Funcionários ouvidos pela Folha se disseram surpresos com a violência contra a colega, mas destacam que a tensão já se tornou rotineira.

Em 1º de junho, um outro segurança do metrô, Danilo Fagner de Souza, 29, levou uma cotovelada no rosto enquanto tentava apreender uma mercadoria de chocolates na recém-inaugurada estação Borba Gato, da linha 5-lilás.

O agente Carvalho Mercês, 55, foi cercado no começo de maio por ambulantes e espancado enquanto transportava carga recolhida na estação Itaquera, da linha 3-vermelha. Em fevereiro, na mesma parada, outro funcionário, Wagner Artilha, levou um soco e teve seu nariz quebrado.

Segundo Rodrigo Kobori, que foi segurança da companhia e atualmente é um dos diretores do sindicato da categoria, a atuação do comércio ilegal nos vagões do metrô se expandiu nos últimos anos não só em volume, mas em organização e complexidade.

"Vemos ambulantes reunidos para se planejar, eles criam suas próprias escalas de atuação com base nos revezamentos da segurança e se comunicam constantemente", afirma Kobori.

A presença de camelôs dentro dos vagões era tradicionalmente mais conhecida entre os usuários de trens da CPTM, mas acabou se espalhando pela rede metroviária.

Kobori afirma haver uma cobrança para que a companhia eleve a quantidade de agentes. "O efetivo vem crescendo, mas ainda não atende as necessidades", afirma.

Em horários de pico, por exemplo, a maior parte dos seguranças se concentra em grandes estações, como Sé e Luz, e as paradas mais distantes acabam negligenciadas, "às vezes com apenas dois ou três agentes", afirma Kobori.

O Metrô diz que, ainda neste ano, concluirá a formação de mais 110 agentes, ampliando seu quadro de 1.157 para 1.267 seguranças. 

 

A companhia, hoje sob gestão Márcio França (PSB), também prevê a abertura de um novo concurso para novas contratações no segundo semestre deste ano.

A empresa também avalia que a expansão das operações de fiscalização a partir do ano passado é um dos motivos para a onda de agressões.

Dados do Metrô apontam uma média de quase 40 apreensões de mercadoria irregular por dia nos vagões.

Nos primeiros cinco meses do ano, foram contabilizadas 5.976 ações de recolhimento, número levemente superior às 5.909 de igual período de 2017, mas bastante superior às 2.223 apreensões registradas no mesmo intervalo de 2016.

Dentre as mercadorias mais frequentes estão alimentos e acessórios eletrônicos diversos. Guloseimas, como balas, chocolates e barras de cereais, correspondem a 57% das apreensões registradas pelo Metrô. Outros 42% representam itens como fones de ouvido, carregadores portáteis para celulares e até mesmo brinquedos. O restante são bilhetes e cartões irregulares de embarque no transporte.

O Metrô paulista afirma que todos os itens recolhidos em suas estações são encaminhados para as prefeituras regionais mais próximas.

Segundo nota da Secretaria de Prefeituras Regionais, sob gestão Bruno Covas (PSDB), ambulantes que têm mercadorias apreendidas em operações de combate ao comércio irregular devem reivindicar seus bens em até 30 dias e pagar uma multa de R$ 156,95. Produtos abandonados após esse período são destruídos.

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