Interventor do Rio 'se segura' diante de críticas, diz ministro da Defesa

General diz que intervenção pretende redistribuir pessoal da PM carioca

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Blindados do exército na Estrada da Gávea, que corta a favela da Rocinha - Eduardo Anizelli/Folhapress
Brasília

O ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, disse que o interventor da segurança pública no Rio de Janeiro, general Braga Netto, "se segura" para não responder às críticas que a intervenção tem sofrido. Luna afirmou que um dos objetivos principais da intervenção é fazer uma reestruturação da Polícia Militar, o que levaria tempo.

"O interventor tem tido uma dificuldade grande, muitas vezes, de ficar calado, de ouvir algumas avaliações ansiosas de quem quer ver o crime organizado reduzir, e tem que segurar, porque ele tem um planejamento a ser cumprido. E está sendo exitoso no seu planejamento", disse o ministro, em audiência realizada nesta quarta-feira (4) na comissão de relações exteriores e defesa nacional na Câmara dos Deputados.

Organizações não governamentais, políticos de oposição ao governo Temer e mesmo o alto comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos têm criticado a intervenção, que não conseguiu baixar diversos índices de violência. Sobre os interventores também pesa a incapacidade de solucionar o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março, há mais de cem dias.

Segundo Luna, um dos principais objetivos da intervenção é alterar a distribuição de pessoal na PM do Rio, corrigindo "um buraco". "Havia quase uma inversão da pirâmide da Polícia [Militar]. Uma quantidade muito grande de policiais no nível mais alto, em cima, e no nível mais baixo, menor [número]. Então é preciso inverter essa pirâmide. Isso tudo está sendo feito, mas com a colaboração total da Polícia Militar e da Polícia Civil do Estado. Eles têm participado do planejamento de modo que, ao final, eles conduzam o processo. Quando se passe o bastão, alguém o receba e continue", disse Luna.

O ministro disse que o plano de intervenção prevê construir "uma coisa consistente", que não desabe logo após o final da medida, marcado para dezembro. "As forças policiais do Rio de Janeiro são as que estão lá. Então o cuidado que se quer ter é não destruir alguma coisa, retirar, e depois não deixar nada no local. Enquanto tem Forças Armadas lá dentro, as coisas estão funcionando, depois quando sair, o que é que fica? Então tem que se construir é uma base, é uma condição para que forças policiais cumpram sua função como força policial. Esse é o grande planejamento. Isso foi assunto que foi tratado no nível do planejamento estratégico", disse o ministro da Defesa.

Luna disse que o processo de mudança no Rio é longo. "Essa viagem não está nem no meio do caminho. Mas se tiver uma direção apontada, é possível que se chegue lá e o trabalho passe a ser do Estado do Rio de Janeiro."

O ministro afirmou ainda que a situação da segurança pública no Nordeste é pior que a do Rio, mas "não está sendo divulgada". "Todo aquele litoral nordestino, se colocar os índices, a gente se surpreende de ver os índices de criminalidade comparados a cada cem mil habitantes. Assusta e supera de longe o Rio de Janeiro."

Durante a audiência, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) disse que durante o carnaval passado, que antecedeu o decreto de intervenção assinado pelo presidente Michel Temer, houve uma "manipulação da população por emissoras de televisão" que noticiaram atos de violência. Segundo o deputado, "alguns órgãos de imprensa quiseram criar uma sensação de insegurança", mas "não havia ali um momento crítico".

O ministro da Defesa concordou com o parlamentar e atacou "a mídia", sem citar nomes. "Esse assunto que o sr. [deputado] comentou sobre mídia daria uma outra vinda nossa aqui, porque é uma guerra de percepções. A guerra que o mundo trava hoje é essa guerra aí dentro. Hoje o fato é um detalhe, a forma como ele é apresentado é que interessa. Alguém já disse, é conhecido, que se os fatos não combinam com a minha versão, problema dos fatos. Então se trabalha dessa forma. A ideia é se apresentar uma versão romantizada, mais complicada ou não, e se manipula as percepções. E pior, a vítima acaba sendo o algoz, ela acaba multiplicando aquelas informações que recebe."

Tanto o ministro quanto o deputado deixaram de mencionar as estatísticas da violência no Rio na época da intervenção. Em fevereiro, a Folha revelou que no ano de 2017 a taxa de mortes violentas foi de 40 por 100 mil habitantes, com 6,7 mil casos somente naquele ano, indicando que o Rio retrocedeu em mais de sete anos na segurança pública, atingindo patamar semelhante aos de 2009 (44,9) e 2010 (36,4). No começo de 2018, o aplicativo Fogo Cruzado havia registrado nada menos que 688 tiroteios ou disparos de armas de fogo somente em janeiro, o maior número desde que a plataforma foi inaugurada, em meados de 2016.

Levantamento divulgado na época pelo ISP (Instituto de Segurança Pública) indicou um aumento, em 2017, de 30,4% nos roubos de veículos e 7,3% no roubo de cargas. Foram apreendidos naquele ano 499 fuzis no estado, o maior número da série histórica da entidade, iniciada em 2007.

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