Guilherme era fruto de uma mistura de etnias: judaica, árabe, italiana, portuguesa e negra. De infância alegre compartilhada com os primos e a avó nas férias de julho na fazenda da tia em Caiuá (SP), teve na piscina o seu primeiro grande desafio.
Pela escola de natação Mori, foi vice-campeão paulista no Projeto Nadar. Nos anos 1990, se destacou entre os adolescentes nas piscinas do Clube Hebraica, na capital.
Especializou-se no nado borboleta, estilo que exige do atleta disciplina e dedicação, requisitos que, uma década depois, ajudariam o medalhista das águas a enfrentar o desafio de graduar-se pela faculdade de medicina da USP.
A alegria de Gui em nadar dividia espaço com o Corinthians. A inspiração veio de memórias da infância da Democracia Corintiana, de Sócrates e Casagrande, bicampeã paulista de 1982/1983.
Conquistava amigos com um jeito peculiar e brincalhão. Para alguns, era o "Cabelo", apesar da cabeça raspada. Tocava os estudos sem se preocupar em ser primeiro da classe. Adulto, buscou respostas na religião. O johrei foi fundamental para canalizar sua energia espiritual.
Aventurou-se pelas aulas de economia, filosofia e marketing, até que resolveu virar médico aos 22. A vocação foi sendo descoberta e revelada durante as disciplinas na USP. Cursou um período de residência em ginecologia e obstetrícia e completou a de anestesista, carreira que seguiu.
A natação, o Corinthians e a medicina foram grandes paixões, mas a maior delas eram os três filhos. Aos mais próximos, dizia ter orgulho de ver seus meninos carregando o sobrenome de uma família vítima do Holocausto.
O coração de Guilherme Macruz Feuerwerker parou no dia 21 de julho, em Vinhedo (SP). Aos 37 anos, o médico deixou pais, um irmão querido, esposa, familiares e uma legião de amigos.
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