Nascido em Portugal, Manuel Marques recebeu da Câmara Municipal de São Paulo o título de Cidadão Paulistano, honraria por sua contribuição em divulgar a cultura portuguesa e o fado na metrópole.
Manuel veio para o Brasil ainda garoto morar com o tio, após a morte dos pais. Aos 12, ganhou uma guitarra de presente, sem imaginar que anos mais tarde seria maestro e maioral da guitarra portuguesa no país —tanto a guitarra de Coimbra, em formato de lágrima, quanto a de Lisboa, assemelhada a um caracol.
Com mais de 400 composições próprias, fez dezenas de LPs e quatro CDs. Também, pudera, os estudos de Manuel tomavam, em média, nove horas de seus dias.
Abriu uma academia musical na Vila Maria, zona norte da cidade, e tocou por quase duas décadas no programa Caravela da Saudade, da TV Tupi, nos anos 1970. Também nessa época, fez toda a trilha sonora da novela "Meu Rico Português", da mesma emissora.
Certa vez, Armênio Rodrigues Nogueira, 52, no auge dos 20 e poucos anos, bateu na porta de Manuel atrás das suas aulas de guitarra. O português alto, moreno e de bigode respondeu: "Você tem quatro horas por dia para estudar?". E após a negativa de Armênio, rebateu: "Então volte quando você tiver tempo."
Voltou dez anos depois, formado seminarista. Numa das vezes, encontrou o professor em dia de jogo de Portugal na Copa e arriscou: "Qual seu palpite para a partida?" Mas Manuel nem sabia do torneio mundial —não tinha costume de assistir TV ou ler notícias no jornal.
Em 2010, o guitarrista voltou para Portugal, após ficar viúvo. Foi atrás do único filho, Nelito Marques, que é músico no país europeu. Morreu lá no dia 8 de junho, aos 92, por falência de múltiplos órgãos. Deixa o filho e dois netos.
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