Pane em voos em 24 h equivale a 1/3 do impacto de greve de caminhoneiro

Falha afetou 107 voos e deixou aéreas em alerta; para Aeronáutica, foi pontual

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Guia de voos do aeroporto de Congonhas, em dia de paralisação em SP
Guia de voos do aeroporto de Congonhas, em dia de paralisação em SP - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
São Paulo

As principais companhias aéreas do Brasil sentiram em menos de 24 horas um impacto equivalente a um terço do golpe acumulado com a suspensão de voos na paralisação dos caminhoneiros, que deixou aeroportos sem combustível. Desta vez, a razão foi uma instabilidade na visualização de radares nos aeroportos de São Paulo.

Somadas as três maiores linhas aéreas brasileiras (Latam, Gol, Azul), foram cancelados 107 voos nesta sexta-feira (20) devido a um problema que, segundo a Aeronáutica, foi provocado por questões ligadas à energia elétrica.

Dois meses atrás, após a paralisação das estradas, as três companhias reportaram um total de 332 cancelamentos.

Entre os dias 25 e 30 de maio, a Latam teve 151 voos cancelados —ou seja, uma média diária de 25 cancelamentos. Só nesta sexta, a pane obrigou a empresa a cancelar 55 voos — ou seja, mais que o dobro do impacto diário sentido na paralisação dos caminhoneiros.

Na Azul, que teve 169 voos cancelados durante os protestos nas rodovias do país entre os dias 24 e 27 de maio (média de 42 cancelamentos por dia), o impacto desta sexta-feira foi de 33 cancelamentos.

As instabilidades aconteceram às 23h30 de quinta-feira (19), às 4h30 e às 10h30 de sexta (20) e atingiram toda a APP-SP, que é a Área de Controle Terminal de São Paulo, ou seja, o principal ponto de conexões de voos do país.

O abastecimento de energia elétrica foi normalizado às 12h, segundo a Aeronáutica, mas os cancelamentos e alterações de destinos se desenrolaram até o fim da tarde.

O caso tem sido visto com preocupação pelas empresas aéreas, que estão calculando os prejuízos desta sexta. Durante a greve dos caminhoneiros, a Azul anunciou perdas em torno de R$ 50 milhões. Na Latam o registro foi de US$ 13 milhões (R$ 49 milhões) pelos dias de estradas paradas. Além dos prejuízos à malha aérea, as empresas têm custos com os passageiros em solo, como hospedagem e remarcação de viagens.

Internamente, as empresas avaliam o caso como alarmante porque se trata de uma infraestrutura básica e envolve a segurança dos voos. Executivos das linhas aéreas listaram outros problemas semelhantes que aconteceram recentemente e consideraram insuficiente a resposta da Aeronáutica, que tratou a questão como um caso pontual.

Há menos de um mês, a Abear (associação das empresas do setor) divulgou nota comentando sobre outro problema elétrico na alimentação do sistema de radares do controle de tráfego aéreo de São Paulo —que, em junho, foi responsável por atrasar e cancelar dezenas de voos nos aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Campinas (Viracopos).

Segundo a Abear, os radares servem para fornecer informações de localização, altitude, velocidade, direção de deslocamento e meteorologia, ou seja, “informam precisamente ao piloto e ao controle de tráfego a posição de uma aeronave no espaço aéreo”.

Em maio, houve um outro caso que ficou mal explicado na percepção de membros de companhias aéreas. Ele voltou a ser comentado pelas empresas nesta sexta-feira.

Na ocasião, o chamado ILS (Instrument Landing System), o sistema de aproximação para pouso de precisão, do aeroporto de Guarulhos, apresentou falhas e precisou passar por avaliação.

Pilotos e engenheiros chegaram a cogitar, naquele momento, que poderia haver interferência magnética com sistemas dos trens da linha 13-jade da CPTM, entregue pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) para ligar a capital paulista ao aeroporto de Cumbica. Na época, CPTM, Aeronáutica e concessionária do aeroporto negaram a versão. O problema foi atribuído a um nevoeiro.

Procuradas para comentar a pane desta sexta, as assessorias de imprensa das companhias evitaram entrar em detalhes. Informaram apenas os números de voos perdidos e as orientações para que seus passageiros que tenham viagens marcadas de ou para São Paulo verifiquem a situação de seus voos antes de se dirigirem aos aeroportos.

Em nota, a Aeronáutica afirmou que o CGNA (Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea) adotou nesta sexta as medidas necessárias para regularizar o fluxo aéreo e que em nenhum momento a segurança foi comprometida.

As instabilidades, diz, “decorreram da transição do fornecimento de energia elétrica do abastecimento comercial para o do gerador próprio”.

Uma das medidas adotadas foi a ampliação do horário das operações dos aeroportos Santos Dumont (RJ) e Congonhas (SP) nesta sexta.

Segundo a Aeronáutica, não há relação entre o fato desta sexta, envolvendo o fornecimento de energia elétrica, com a instabilidade de 16 de junho, quando uma das placas de telecomunicações precisou ser substituída.

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