A Polícia Civil disse que investiga motivação de vingança por dívidas na chacina que deixou cinco mortos, todos da mesma família, em um apart-hotel em Canasvieiras, no norte de Florianópolis, na última sexta-feira (6).
Anteriormente, eles disseram acreditar que houvesse participação de membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), por conta das pichações encontradas nas paredes. Mas agora passaram a considerar a pista como blefe para desviar a atenção.
O delegado Anselmo Cruz, diretor da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), e o diretor de polícia da Grande Florianópolis, Vérdi Furlanetto, afirmaram ao UOL que o patriarca da família, Paulo Gaspar Lemos, 78, teve problemas financeiros e deixou negócios para trás em São Paulo e em Santa Catarina. Ele respondia a quatro inquéritos policiais por estelionato.
Segundo a reportagem apurou com um amigo da vítima, ele teria declarado falência de uma revenda de carros em São Paulo e se mudado com os filhos para capital catarinense havia dez anos.
Já em Florianópolis, ele era proprietário de um salão de festas avaliado em R$ 60 milhões, a Arena Spazzio, situada no bairro Vargem Grande, de uma mansão em Jurerê internacional, do hotel Venice e de uma coleção de mais de cem carros antigos.
A família também havia escolhido viver em Florianópolis após o sequestro de Paulo Júnior, quando eles moravam na capital paulista.
O pai Paulo, os três filhos —Júnior, 51, Katya, 50 e Leandro, 44— e o sócio Ricardo Lora, 39, foram encontrados estrangulados, após serem submetidos a oito horas de tortura psicológica.
"No cerne da tragédia há problemas comerciais. A locadora, o hotel, ações trabalhistas. São diversas questões que envolvem [o crime]", disse o delegado Furlanetto.
Entre as pichações encontradas nas paredes do hotel, estavam a frase "Minha família foi justiçada. Enrolaram muita gente, chegou a hora deles" e número 171, o artigo do Código Penal sobre estelionato.
Imagens de câmeras de segurança foram roubadas
Os criminosos levaram do apart-hotel dois veículos da família e o aparelho de gravação do sistema interno de monitoramento. A polícia trabalha com imagens das câmeras dos prédios da vizinhança, ouvindo uma série de testemunhas e na perícia dos dois veículos que já foram encontrados.
De acordo com os investigadores, os três bandidos eram profissionais, estavam encapuzados e usando luvas. Eles teriam chegado a procurar um cofre, mas não encontraram.
Ricardo Lora, sócio de Leandro, foi enterrado neste sábado (7) em Caxias, no Rio Grande do Sul. Já a família Gaspar Lemos foi sepultada na tarde de domingo no cemitério Jardim da Paz, em Florianópolis.
VIOLÊNCIA
Em janeiro, um ataque a tiros em Canasvieiras deixou um homem morto e três feridos.
Capital com o melhor índice de desenvolvimento humano do Brasil, destino turístico e polo de inovação tecnológica, Florianópolis é conhecida como "ilha da magia". Passa, no entanto, por um crescimento da violência.
Em 2017 a cidade viveu uma explosão de crimes, com o recorde de mortes violentas. Em 2002, a capital catarinense teve apenas 8 crimes violentos, contra 127 até setembro de 2017.
Os crimes se concentraram nos Ingleses (bairro no norte da ilha que abriga a favela do Siri) e no Monte Cristo (área continental que reúne as comunidades Chico Mendes e Novo Horizonte, epicentro das disputas entre facções, fazendo jus ao novo apelido: "Faixa de Gaza").
Em fins de agosto, a capital e outras 30 cidades catarinenses viveram cinco noites consecutivas de atentados, incluindo tiros, incêndios e bombas contra delegacias.
No dia 1º de setembro, o Estado divulgou números "que impressionam", diz a nota: foram feitas mais de 17 mil prisões e apreensões em 2017, num total de 45,1 toneladas de maconha, 9,7 toneladas de cocaína, cerca de 230 mil pedras de crack e 2.532 armas, além de 5.150 ocorrências relacionadas a tráfico de drogas.
Duas tramas se desenrolam neste contexto. Por um lado, a disputa entre duas facções, o PGC (Primeiro Grupo Catarinense) e o paulista PCC (Primeiro Comando da Capital). Por outro, o "revide" de facções por situações que consideram "injustas" dentro do sistema prisional e de repressão nas ruas.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.