Antiga fábrica de baterias vira 'garimpo' de placas de chumbo em SP

Solo industrial em Sorocaba está contaminado e área deve ser cercada

Marcelo Toledo
Ribeirão Preto (SP)

A área em que funcionava uma antiga fábrica de baterias automotivas e que tem resíduos de chumbo no solo se transformou numa espécie de “garimpo” ilegal em Sorocaba, no interior paulista.

Desativada desde 2011, a fábrica Saturnia passou a abrigar nos últimos meses moradores da cidade que escavavam a terra para tentar encontrar metais para comercializar em ferros-velhos. As intervenções criaram montanhas de terra no local.

Além da sucata de ferro, o local tinha placas de chumbo e o solo contaminado, de acordo com a Cetesb (Companhia Ambiental de SP), que aplicou multa à massa falida da empresa na última semana devido à contaminação.

A indústria fechada fica no bairro Iporanga e, apesar de abrigar uma placa que informa a presença de resíduos de chumbo, o acesso a ela é fácil para qualquer pessoa. A contaminação gerou uma série de reuniões e a criação de uma comissão de investigação na Câmara local.

Denúncias sobre contaminação do solo envolvendo a Saturnia não são inéditas e já existem há mais de duas décadas. Em 1995, a Cetesb interditou três fornos de fundição da fábrica sorocabana. A alegação era que os resíduos do uso do chumbo na produção das baterias estavam contaminando áreas internas e externas da empresa.

Nesta quinta-feira (23), uma reunião de emergência na prefeitura com Cetesb, polícias (Ambiental e Militar), vereadores e a massa falida da Saturnia resultou na promessa de que a área será cercada nos próximos dias para evitar invasões.

Segundo a prefeitura, o gestor da massa falida, Sadi Montenegro Duarte Neto, se comprometeu a isolar a área de 170 mil metros quadrados em uma semana, além de instalar placas indicativas de que o local é contaminado. Já a Polícia Militar ampliou as rondas no local, para não permitir a presença de pessoas em busca dos materiais enterrados.

A Cetesb multou no último dia 17 os responsáveis pela massa falida da Saturnia em R$ 257 mil, devido à contaminação do terreno e à falta de providências para eliminar o risco à saúde com a exposição das pessoas aos resíduos enterrados no local.

De acordo com a companhia, três dias depois um ofício foi enviado à 2ª Vara de Sorocaba e à prefeitura informando o risco à saúde dos catadores que ainda atuavam na área da empresa. “A Cetesb exige da prefeitura o imediato cercamento do terreno e a instalação de vigilância, para impedir o acesso da população ao local e a exposição dessas pessoas ao risco”, diz trecho de nota da companhia.

INVESTIGAÇÃO

Depois de uma comissão da Câmara ter ido ao local em março para uma vistoria, na terça-feira (21), os vereadores aprovaram de forma unânime a criação de uma CEI (Comissão Especial de Investigação) para apurar as irregularidades no terreno onde funcionava a fábrica de baterias automotivas.

A comissão deve iniciar os trabalhos na próxima semana. A Folha não obteve contato com a administração da massa falida da Saturnia.

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