Deputado federal critica reportagem da Folha sobre policial Juliane

Baseado em depoimentos de testemunhas, texto reproduz passos da PM antes de ser capturada e morta

São Paulo

O deputado federal Capitão Augusto (PR-SP) usou a tribuna da Câmara dos Deputados durante sessão plenária desta segunda-feira (13) para criticar reportagem da Folha sobre os últimos momentos livres da policial militar Juliane dos Santos Duarte, 27, antes de ter sido capturada e morta por criminosos na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

Reportagem da Folha publicada no último dia 9, produzida com base em depoimentos de testemunhas à polícia, reproduziu todos os passos da policial antes de ser levada de um bar na comunidade.

Sempre de acordo com o boletim de ocorrência, o texto mostrou que a soldado, que estava de férias, participou de um churrasco, foi para a casa de amigas e saiu de madrugada para comprar cerveja no bar próximo.

Lá, como também mostrou a reportagem, ela conheceu uma moça com a qual trocou beijos e, diante de um suposto caso de furto de celular no estabelecimento, sacou sua arma e se apresentou como policial —cerca de 40 minutos depois, o local foi invadido por encapuzados, que a capturaram. Dois suspeitos estão presos.

Em fala na tribuna da Câmara, o deputado chamou o texto de "preconceituoso, desnecessário, ofensivo e covarde" e se referiu ao repórter Rogério Pagnan, autor da reportagem, como um "pseudo-jornalista".

Militar da reserva, o deputado também criticou a Folha e aquilo que chama de "imprensa que não ajuda em nada na questão da segurança".

"Tenham vergonha na cara, Rogério Pagnan e a Folha também. Como é que pode dar espaço para um jornalista ruim, covarde, incompetente, vagabundo como esse?", disse o deputado. 

Juliane desapareceu na madrugada do último dia (2) na comunidade com pouco mais de 60 mil habitantes, dominada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O corpo da soldado só foi achado cinco dias depois, a 8,5 km de onde havia sido vista pela última vez. 

Desde a publicação da reportagem, o repórter tem recebido uma série de ameaças, inclusive de morte, em suas redes sociais. 

O hoje repórter Pagnan é filho de policial militar e, influenciado por ele, também ingressou na corporação, em 1989. Em 1995, passou a escrever em jornais de Pedregulho (SP), sua cidade natal. Começou a fazer jornalismo no ano seguinte, na vizinha Franca, onde conheceu jornalistas da Folha

Em seu discurso, sem apresentar provas, o deputado atacou a carreira de Pagnan na corporação. "Fui levantar a capivara desse pseudo-jornalista. É ex-policial militar", afirmou para os colegas parlamentares. E continuou: "Era vagabundo, preguiçoso, um péssimo policial, não servia para absolutamente nada."

O deputado narra o que diz ter encontrado sobre a carreira do repórter, quando ainda era policial. "Não servia para nada, teve inúmeras punições disciplinares, um péssimo policial militar", disse o deputado eleito em 2014 para seu primeiro mandato.

Da tribuna, Capitão Augusto ainda ameaçou o repórter: "Eu sei do B.O gravíssimo que tem contra você, cara. Eu vou levantar no Ministério Público e na Polícia Civil e voltarei aqui para estar falando de você". 

Procurado após o discurso, o deputado afirmou que reitera tudo o que disse em plenário e que havia conversado com PMs que, segundo ele, trabalharam com Pagnan e criticaram seu comportamento na polícia. Também disse que "são várias as matérias contra a Polícia Militar" assinadas pelo jornalista, mas, questionado, não soube citar um exemplo.

Pagnan pediu para deixar a corporação em 2000, para trabalhar na Folha. Na época, respondia a apenas uma apuração interna, após ter publicado, na própria Folha, uma reportagem sobre a falta de viaturas da PM em Franca. No mesmo período, respondeu internamente por bico irregular na corporação —trabalhar na polícia e fazer freelance no jornal.

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