Descrição de chapéu Festa do Peão de Barretos

Em busca do estrelato, artistas distribuem CDs na festa de Barretos

Cover de José Rico sonha em conseguir 'um minuto' na arena para tentar fama

Marcelo Toledo
Barretos (SP)

Numa época em que o streaming é cada vez mais presente, é com a distribuição dos quase abolidos CDs que artistas sertanejos tentam catapultar seus nomes à fama nas ruas do Parque do Peão de Barretos, que abriga a mais tradicional festa do gênero no país.

Enquanto o público já formava uma enorme fila nas catracas para entrar no estádio para o show de Shania Twain no último sábado (18), duas jovens ofereciam CD do cantor Robson Silva ao público, na expectativa de que alguém ouvisse ao chegar em casa e gostasse de seu trabalho. Nem todos pegavam.

 DJ Lane Frost, 25, que atua em arenas do país há cinco anos, no estádio de rodeios da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos
DJ Lane Frost, 25, que atua em arenas do país há cinco anos, no estádio de rodeios da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos - Francisco Cepeda/Divulgação

Como ele, a Folha identificou ao menos oito artistas que nos primeiros dias da festa distribuíram seus CDs –às vezes, com duas músicas apenas– em ranchos, aos peões e ao público em geral. O cenário deve ser ampliado até domingo (26), principais dias da Festa do Peão de Boiadeiro.

É o caso, por exemplo, da dupla Junior & Cristiano, formada por pai e filho e que tocou numa carreta de uma patrocinadora da festa estacionada na feira comercial do Parque do Peão no último final de semana.

Formada há quase seis anos, a dupla já considera um upgrade na carreira ter conseguido tocar no recinto da festa —embora ainda longe dos principais palcos.

“Sempre prezamos pela qualidade vocal e instrumental, mas sempre pecamos na gestão e na logística. Agora temos uma pessoa em nossa produção que disse que era uma boa oportunidade divulgar o CD na festa”, disse Junior, que é de São José do Rio Preto.

Foram distribuídos 250 CDs em locais considerados estratégicos. O álbum tem quatro músicas e as marcas de seis patrocinadores no verso. “Barretos é a vitrine da vitrine.”

Outro que tenta o estrelato, neste caso já há mais de uma década, é o cantor e empresário Batista Faria, de Guaíra (SP), que faz cover de José Rico (1946-2015), da ex-dupla com Milionário. A grossa corrente no pescoço, pulseiras, anéis e relógio, todos dourados, ajudam a compor o figurino do artista, que também se apresenta com boné, óculos escuros e com a mão no ouvido, como o sertanejo fazia. Seu disco tem 16 canções, todas de José Rico.

Já conseguiu fazer aparições relâmpagos no palco e se apresentar em programas de TV, mas sonha em ser reconhecido pelo seu nome, não pelo do artista que busca imitar. “De repente neste ano ainda consigo algo num palco, fazer alguma coisinha, uma oportunidade de um minuto. Um minuto já basta naquele palco da arena para aparecer para o país inteiro”, disse ele, que não vive só de música e tem uma empresa que aluga gradis e banheiros químicos para eventos.

A tática já foi adotada por cantores conhecidos, como Luan Santanna e a dupla João Neto & Frederico, que tiveram músicas distribuídas em CDs promocionais na festa de Barretos antes da fama.

BOATE AZUL

Se nas ruas do Parque do Peão os aspirantes à fama priorizam o sertanejo, seja ele em qual vertente for, dentro da arena ele não é o único ritmo tocado pelos DJs que acompanham os locutores de rodeio.

O sertanejo raiz é o ritmo que mais levanta o público, na avaliação do locutor Cuiabano Lima, mas outros estilos devem ser levados para as arenas, como house, funk e sertanejo universitário. “Quando toca modão sertanejo, 99% do público aprova, mas é preciso estar bem antenado com outros estilos”, disse.

Para ele, é obrigatório tocar canções como “Boate Azul” (“Sair de que jeito/Se nem sei o rumo para onde vou/Muito vagamente me lembro que estou/Em uma boate aqui na zona sul”) ou “Telefone Mudo” (“Eu quero que risque o meu nome da sua agenda/Esqueça o meu telefone, não me ligue mais”).

DJ do locutor Adriano do Valle há cinco anos, Lane Frost, 25, disse que não dá para tocar só as clássicas sertanejas. “Toco dance, eletrônico, modão sertanejo e rock. Só não dá para tocar axé, o pessoal estranharia”, disse. 

Barretos abre na noite desta quinta-feira (23) seu rodeio internacional, que dará ao campeão uma camionete avaliada em R$ 250 mil. A previsão da organização é reunir até um milhão de visitantes na festa, realizada desde 1956 na cidade paulista. Os preços dos ingressos são diferentes para cada dia, mas variam de R$ 35 (meia, para domingo) a R$ 1.390 (camarote open bar para sábado).

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