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Em crise, hospital de Guarulhos acumula sujeira e falta de médicos

Quatro pacientes internados em unidade na Grande SP estão com superbactéria

Luciano Cavenagui
São Paulo | Agora

Falta de médicos, muita sujeira e carência de medicamentos. Esse é o cenário relatado por pacientes do HMU (Hospital Municipal de Urgência) de Guarulhos (Grande São Paulo).

A unidade hospitalar, uma das principais referências da cidade, está passando por uma crise de gestão entre a prefeitura e o Instituto Gerir, entidade privada contratada para fazer a administração.

Por causa dos salários atrasados, médicos entraram em greve na segunda (13). Em razão também da falta de pagamento, a empresa terceirizada responsável pela limpeza suspendeu o serviço. A crise afeta ainda o Hospital Municipal da Criança e do Adolescente.

De acordo com o Instituto Gerir, a prefeitura não repassou, nos últimos meses, R$ 27 milhões no total, inviabilizando assim a prestação adequada dos serviços.

Quem procurava atendimento nesta terça (14) no HMU era informado por funcionários que somente casos muitos graves seriam acolhidos. As pessoas eram orientadas a procurar outras unidades de saúde no município.

Segundo empregados do hospital, somente no fim da manhã de terça a sujeira acumulada desde domingo (12) foi retirada por funcionários da prefeitura.

A administradora Divina Gonçalves, 60, tem ido diariamente ao hospital para visitar um parente internado.

“Infelizmente este hospital está abandonado. Já achei até rato aqui dentro por causa da falta de limpeza. Os médicos não estão recebendo os salários e ficam desanimados, comprometendo o atendimento, principalmente no pronto-socorro”, afirma.

A opinião é compartilhada pelo autônomo William Leite, 40, que também vai ao hospital regularmente.

“Nas últimas semanas, a população não está vindo mais aqui, pois sabe que não receberá atendimento. Temos notícias frequentemente de que faltam médicos e também alguns remédios. A situação é lamentável”, reclama.

O Instituto Gerir diz que a prestação da limpeza voltou ao normal nesta terça no final da manhã, após o repasse emergencial de R$ 700 mil feito pela prefeitura. Alega também que, oficialmente, a greve dos médicos foi encerrada com o pagamento dos salários de maio, estando ainda em aberto os vencimentos de junho e julho.

SUPERBACTÉRIA

Quatro pacientes internados no Hospital Municipal de Urgência estão infectados com a superbactéria chamada KPC, confirma a Secretaria de Saúde de Guarulhos.

Uma das contaminadas é a recepcionista Evelin de Souza, 26, internada desde junho com diabetes. O quadro clínico dela piorou e ela está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

“O hospital está péssimo, tem problema de sujeira frequentemente”, afirma o pai da paciente, o pedreiro Edmilson Félix da Silva, 53. “Rezo todos os dias para a minha filha se recuperar, mas os médicos não deram esperanças”, diz a mãe, Cristina da Silva, 50.

A secretaria diz que não há surto de infecção e que os pacientes foram identificados após exames de rotina. Alega ainda que foram tomadas todas as medidas de controle.

REPASSE

A Prefeitura de Guarulhos, sob gestão do prefeito Gustavo Henric Costa, o Guti (PSB), alega que o convênio com o Instituto Gerir está em dia e que repassou nesta terça R$ 700 mil para o pagamento imediato dos salários dos funcionários de limpeza, sob responsabilidade da entidade.

A prefeitura argumenta também que já realizou, neste mês, outros repasses de R$ 3,8 milhões para a prestação dos serviços previstos.

A administração afirma que não reconhece atrasos de R$ 27 milhões, conforme informado pela Gerir. Diz que esses valores não estão sob contratos e que essa diferença está sendo analisada por meio de uma auditoria realizada pela Secretaria de Saúde. 

A gestão diz que firmou contrato em maio de 2017 com o instituto, prevendo repasses mensais de cerca de R$ 10 milhões, incluindo serviços no HMU, Hospital da Criança e do Adolescente e também da unidade de Pronto Atendimento Paraventi.

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