"Vô, não pode ir entrando assim", advertiu o neto de Fernandinho ao ver o senhor de idade já no gramado, quando acabou o treino do Flamengo. "Eu sou velho", brincou o avô. "Posso fazer o que quiser." Queria apenas dar um abraço em um atleta.
Não era a primeira vez que invadia uma cancha do rubro-negro. Décadas antes, quando o filho jogava basquete pelo clube, Fernandinho entrou na quadra com motivação menos afável —contrariado com a arbitragem, queria chutar a bunda de um dos juízes e rasgar a súmula.
Tais anedotas, porém, não contam seu papel na história do Flamengo. Fernandinho é reconhecido como o primeiro goleiro profissional do rubro-negro e também o último goleiro amador. Além disso, tem a marca invejável de nunca ter perdido para o Fluminense.
Sua trajetória estava ligada ao rival. Quando começou a se interessar por futebol, o irmão tricolor o levou para assistir ao dérbi nas Laranjeiras, casa do Flu. O Flamengo perderia por 4 a 0. Anos depois, fez sua estreia na equipe principal como meia, em um Fla-Flu. Ganharam por 1 a 0 e o porre da comemoração só terminou no dia seguinte.
Virou goleiro por acidente: o titular se machucou e ele teve de substitui-lo. Foi tão bem que ganhou a posição. Jogou pelo Fla entre 1931 e 1934, mas uma lesão grave no joelho fez com que abandonasse o esporte. O clube, jamais.
Já com 95 anos, sentiu dores no peito. Achou que fossem gases, e foi caminhando ao hospital. Estava infartando. Entrou em coma. Acordou três meses depois e viveu mais dez anos. "Acho que me esqueceram aqui", dizia, com seu sorriso característico.
Morreu no último dia 28, aos 105. Deixa os filhos Fernando e Paulo (em memória), o neto Fábio e a companheira Alais.
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