Na década de 1940 não havia SUS, não tinha plano de saúde. Médicos, Aida e o marido, João Raphael, atendiam pacientes no sobrado em que viviam, no Ipiranga, em São Paulo. Os mais carentes pagavam como podiam: um doce, um "Deus lhe pague", até mesmo uma galinha.
Ela sempre aceitou de bom grado —era do tipo que se colocava no lugar do outro, e ajudava como pudesse a diminuir o sofrimento alheio.
Na época, mulheres em cursos de ensino superior eram exceção. A regra era ser educada para ser dona de casa. Aida foi uma pioneira, como uma das quatro mulheres de sua turma no curso de medicina na USP, entre 80 homens. Ouvia que estava roubando a vaga de algum deles.
Conheceu João no curso e casaram-se após a faculdade. Além do consultório residencial, trabalharam nos hospitais Leão XIII e Matarazzo.
Atenciosa, estava sempre a cuidar dos outros por meio de gestos simples, fosse na garrafa de café que fazia para os porteiros do prédio ou ajudando nos estudos de sobrinhos. Conseguiu incutir nos descendentes o apreço que tinha pela leitura e pelos estudos.
Neta de italianos, no 24 de junho fazia a própria massa e cozinhava um "tortelli di zucca". Era uma homenagem ao marido, já que o dia celebra São João. Além da massa recheada de abóbora, fazia um bolo de fubá que deixava a família ansiosa pela data.
Em vida, Aida recebeu toda sorte de homenagens. Morreu no último dia 3, aos 103, após complicações em decorrência de uma isquemia. Deixa os filhos Sérgio e Flávio, as noras Solange e Carmen e os netos Flavia, Fernando, Raphael e Thais. Nesta quinta (9), uma missa celebra sua memória.
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