Descrição de chapéu Festa do Peão de Barretos

Sem mais mulheres laçadas por homens, Barretos prega veto ao assédio

Adesivos com 'Não é não!' estão sendo distribuídos no parque da festa do Peão

Marcelo Toledo
Barretos (SP)

​“Não é não!” Local que já teve fama no passado de ser um espaço em que mulheres eram laçadas por homens, a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos neste ano está abrigando uma campanha contra o assédio às frequentadoras.

Com essa mensagem, adesivos brancos e redondos estão sendo distribuídos nas ruas do Parque do Peão de Barretos (a 423 km de São Paulo) contra o assédio. E eles têm sido utilizados pelas mulheres, inclusive nas implacáveis cantadas nas ruas do recinto projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012).

Público dentro da arena de rodeio na Festa do Peão de Barretos
Público dentro da arena de rodeio na Festa do Peão de Barretos - Joel Silva/Folhapress

Se laçar é proibido dentro e fora do parque, cantadas indecorosas ainda fazem parte da rotina, segundo relatos de visitantes do evento feitos à Folha. “É comum, a todo momento. Basta estar sozinha para ser alvo de cantada”, disse a estudante universitária Ana Carolina Mendonça, que frequenta a festa há três anos, sempre com amigas.

A parceria entre Os Independentes e uma empresa permitiu a distribuição de 100 mil adesivos desde o início da festa. “Como o maior público da festa é jovem, é importante conscientizá-lo de que o não é não e que é preciso respeitar”, afirmou Marcos Rossi, diretor da empresa Mackcolor, que fez a parceria com a direção do festival barretense.

É o primeiro rodeio do país a entrar na campanha, que deve se espalhar por outros eventos do gênero.
Com um adesivo colado na blusa, Tamires Rocha disse que só o fato de usá-lo já estava servindo para inibir cantadas indesejadas.

“Lógico que venho para paquerar também, mas incomoda você nem olhar para o lado e o cara já achar que você quer algo mais”, disse ela, que é de Ribeirão Preto. Além de a campanha estar atraindo as mulheres, apesar das queixas femininas o comportamento do público também tem se modificado ao longo dos anos.

Se houve –e houve– reação negativa de frequentadores da festa quando do lançamento de “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), que narra a relação de dois vaqueiros que se apaixonam, neste ano por sua vez um jovem pediu seu namorado em casamento em pleno palco durante show de Shania Twain, no último sábado (18).

O que não muda na festa é a ausência de mulheres na associação Os Independentes, que organiza o evento. Fundada em 1955, desde o início a associação tem uma série de regras, que incluem a possibilidade de ser sócio apenas aos homens e também o veto a pretendentes casados no momento do ingresso ou que dependam financeiramente dos pais. Mas, mesmo nela, já há uma corrente que defende liberar a chance de mulheres serem sócias efetivas.

SEM SEGREDOS

Para monitorar o que acontece no Parque do Peão, uma central de monitoramento conta com 69 câmeras instaladas em áreas como os estacionamentos e a feira comercial –que concentra os shows durante as madrugadas.

Elas se somam a outros aparatos tecnológicos que também têm como objetivo coibir a entrada de penetras no parque.

Tablets para conferir QR-Code dos cartões de estacionamento nos carros –implantados pela primeira vez– e a necessidade de cadastramento biométrico para credenciados estão entre as medidas adotadas pela organização para evitar o ingresso de pessoas sem convites ou com bilhetes que não permitem acesso a determinados locais do Parque do Peão.

As medidas protetivas se acentuaram a partir de 2010, ano em que a organização alegou ter tido prejuízo de ao menos R$ 1,5 milhão com a invasão de penetras.

Para que ele consiga entrar num show fechado no Parque do Peão, terá de superar ao menos as catracas das bilheterias, as câmeras de monitoramento e os seguranças espalhados pelo recinto. Ao chegar ao estádio, terá de passar pelos mesmos obstáculos novamente.

O QR-Code substitui adesivos colocados nos veículos que, embora se desmanchassem a qualquer tentativa de remoção, até o ano passado eram vendidos no mercado paralelo. Estacionar os 11 dias na festa custa cerca de R$ 300. 

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