Polícia prende mais um suspeito pela morte da policial Juliane em SP

Imagens de câmeras mostram homem estacionando moto da PM na rua

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Moto da policial Juliane Duarte, 27, encontrada em Pinheiros após o seu desaparecimento - Ronaldo Silva - 3.ago.18/Futura Press/Folhapress
São Paulo

A polícia prendeu mais um suspeito de envolvimento no assassinato da policial militar Juliane dos Santos Duarte, 27, encontrada morta na noite de segunda-feira (6) na zona sul de São Paulo. Ela estava desaparecida havia cinco dias.

O corpo da soldado foi achado dentro do porta-malas de um carro no bairro de Jurubatuba, a 8,5 km de onde havia sido vista pela última vez, em Paraisópolis, favela com pouco mais de 60 mil habitantes dominada pela facção criminosa PCC e um dos maiores pontos de venda de drogas da cidade. 

O novo suspeito foi detido na noite desta terça-feira (7) e teve a prisão temporária pedida à Justiça. O homem foi identificado como Felipe Oliveira da Silva e, segundo as investigações, seria a pessoa que abandonou a moto da soldado em Pinheiros, na zona oeste, logo após o desaparecimento da PM.

A identificação de Felipe foi facilitada após a polícia analisar imagens de câmeras da rua que mostram a hora em que ele estaciona a moto. A Folha não conseguiu contato com a defesa do suspeito. Ele foi preso em uma força-tarefa realizada pelo grupo especial da Corregedoria da Polícia Militar, chamado de PM Vítima, especializado em apurar crimes cometidos contra integrantes da corporação.

De acordo com o delegado titular do 89º DP (Morumbi),  Antônio Sucupira Neto, o suspeito admitiu ter levado a moto da PM para ser abandonada distante da favela, mas negou participação no assassinato. "Há testemunhas, porém, que o reconheceram como sendo um dos quatro indivíduos que abonaram a policial militar na madrugada de seu desparecimento", disse ele.

"Elas reconheceram com 100% de certeza a participação dele, vulgo Silvinho, não só na condução da moto, mas também como um dos responsáveis pelo arrebatamento da policial no bar", concluiu ele.

A polícia paulista já havia prendido um outro suspeito, pouco tempo antes de o corpo da soldado ter sido encontrado. Everaldo Severino da Silva, 45, foi detido em Paraisópolis. Denúncias anônimas ligaram a participação dele ao assassinato.

Everaldo, que nega participação no crime, seria integrante da facção criminosa PCC e, na região de Paraisópolis, teria a função de ordenar mortes, segundo informações de policiais civis e militares.

Reportagem da Folha publicada nesta terça-feira revelou que, após perícia no corpo da policial, a cúpula da PM avalia que Juliane deve ter permanecido por mais de 24 horas em poder de criminosos antes de ser assassinada com um tiro na cabeça.

Os exames periciais apontaram que a soldado morreu entre 24 horas e 48 horas antes da localização do corpo. Isso significa, de acordo com a polícia, que a morte deve ter ocorrido no sábado (4) ou no domingo (5). Segundo testemunhas, a soldado foi levada por bandidos ainda com vida na madrugada de quinta-feira de um bar de Paraisópolis. Ela teria ficado em poder dos criminosos até que seu destino fosse decidido, em uma espécie de tribunal do crime.

Ainda segundo policiais, dificilmente alguém mataria um policial na comunidade, conhecida como um reduto do PCC, sem uma ordem dos chefes da quadrilha da região. Isso porque a morte de um policial militar, sabidamente, provocaria reações por parte dos colegas e, em caso de repercussão, da cúpula da corporação. Isso explicaria, em tese, a razão pela qual a policial não foi morta em um primeiro momento. Os criminosos provavelmente consultaram instâncias superiores até decretarem a morte dela.

A avaliação dos criminosos leva em conta os prejuízos que operações policiais na favela poderiam provar com a interrupção da venda de drogas. Paraisópolis é considerada uma das principais "bocas de fumo" de toda a capital, responsável pelo abastecimento de cocaína da classe média da zona sul. 

A reação da polícia foi imediata. Desde quinta-feira da semana passada a favela é alvo de uma intensa movimentação de policiais, com incursões nos becos e sobrevoos de helicópteros. Não há prazo para o fim dessas operações. Estão lá equipes do Comando de Operações Especiais, do Canil, do Grupamento Aéreo e das unidades de policiamento da região, assim como todo o contingente da Equipe de PM Vítima (da Corregedoria), todas em conjunto com a Polícia Civil.

Policiais avaliam que, embora seja uma tragédia indiscutível, a PM morta não seguiu procedimentos de segurança orientados pela tropa. Um deles é ter se colocado em um ambiente vulnerável: uma favela gigantesca, com 63 mil habitantes e forte presença do crime organizado.

Além disso, após ingerir bebida alcoólica, a soldado teria sacado a arma para resolver um furto de celular, embora estivesse sozinha em local sem apoio rápido. Na mesma favela, até policiais de serviço já foram atacados —alguns relatando o uso de armas .30 (capazes de derrubar aeronaves).

Segundo testemunhas, após Juliane se identificar como policial nesse bar, frequentadores do espaço informaram aos bandidos sobre a presença dela. Quatro deles teriam aparecido, três deles com capuz, e levado a PM para um local desconhecido, após ter acertado um tiro na perna dela.

PARAISÓPOLIS

Os riscos até para os policiais na favela de Paraisópolis foram evidenciados em novembro do ano passado pela diretora do DHPP (Departamento de Homicídios), a delegada da Polícia Civil Elisabete Sato.

 

Durante evento sobre segurança pública, ela disse que a polícia paulista enfrentava problemas ao entrar em favelas, incluindo Paraisópolis. "Eu converso muito com nossos investigadores. E nossos investigadores me falaram na semana passada: 'Diretora, está difícil entrar em Paraisópolis [...] Nem a PM nem a Rota estão entrando lá'", disse.

Na época, o governo negou tal dificuldade e, em resposta à delegada, a PM fez operações naquele mesmo dia. Na ocasião, o ainda secretário da Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, também reagiu às afirmações da delegada. "A afirmação de que as polícias de São Paulo têm dificuldade em cumprir seu trabalho, seja em comunidades ou em qualquer outro lugar, é o mais completo absurdo." Ele citou operações e prisões recentes na favela de Paraisópolis.

Moradores da região, porém, deram razão à delegada.

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