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Crianças de escolas públicas de SP fazem obra de arte com cogumelos de argila

Em coautoria com artista espanhol, 553 alunos de CEUs têm obra exposta na Bienal

alunos sentados no chão trabalham com argila
Alunos de CEUs em SP ajudam na produção de obra exposta na Bienal - Folhapress
Elaine Granconato
São Paulo | Agora

Seis mil cogumelos confeccionados em argila e queimados em três tons de cerâmica e espalhados no chão em imenso círculo na entrada principal do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no parque Ibirapuera (zona sul de São Paulo), são o cartão de visita ao público na 33ª Bienal de São Paulo, que foi aberta no feriado de 7 de setembro.

A obra idealizada pelo artista espanhol Antonio Ballester Moreno tem coautoria inédita de alunos da rede pública de ensino municipal.

No total, 553 estudantes, entre 5 e 14 anos, representantes de cinco escolas públicas municipais instaladas em cinco CEUs (Centros Educacionais Unificados), a maioria em bairros distantes.

Pela primeira vez em 67 anos de Bienais de São Paulo, a renomada exposição internacional abriu as portas para participação do cidadão comum na arte de criar. Neste caso, crianças.

“Foi bem legal. No início, eu não sabia fazer”, conta Anny Isabely Rodrigues dos Santos, 10, do CEU Vila Curuçá, escola que produziu 880 cogumelos com 150 alunos, dos 4.000 confeccionados pela rede de ensino de São Paulo.

Quarenta e três alunos do 4º e 5º anos da unidade visitaram a Bienal na quinta-feira (6), véspera da abertura oficial. No rosto de cada um estava o sorriso de satisfação de fazer parte de toda aquela imensidão e de reconhecer seu trabalho na obra.

A produção contínua dos cogumelos ocorreu de maio a agosto nos ateliês de arte dos cinco CEUs, após alguns professores da rede passarem por oficinas de cerâmica com um artista indicada por Moreno para aprendizagem da técnica. Depois, os profissionais multiplicaram o conhecimento para os alunos.

“A única exigência do artista foi que os professores não interferissem nas criações individuais das crianças”, diz a pedagoga e assessora cultural da Coceu (Coordenadoria dos CEUs e da Educação Integral), Deborah Valverde, vinculada à Secretaria Municipal da Educação, da gestão Bruno Covas (PSDB).

A cada 15 dias, as peças produzidas eram retiradas das escolas para serem queimadas, e novo lote de argila chegava para confecção de mais cogumelos. E perto da abertura da Bienal, o artista visitou as escolas e conversou com os alunos. Agora, as crianças vão conhecer a exposição.

“Conseguir incluir crianças das escolas públicas municipais no maior evento cultural do país, sem dúvida, além de um grande desafio, foi motivo de orgulho para todos nós”, afirma Luciana Guimarães, superintendente executiva da Fundação Bienal.

Luciana conta que o artista Antonio Ballester Moreno, ainda na concepção de seu projeto, pediu a participação de crianças. “Foi quando resolvi fazer a parceria com a rede municipal de ensino e trazer os alunos para dentro desse universo. O mundo das artes não pode ser classificado como só da elite, mas de toda cidade de São Paulo e de todos nós”, diz a superintendente da Bienal.

Os estudantes Rhaika Fagundes, 10, e Gabriel Rocha, 10, ambos alunos do 5º ano do CEU Vila Curuçá, conseguiram suas esculturas em meio aos 6.000 cogumelos espalhados pelo piso térreo da Bienal.Com celulares nas mãos, registraram as obras, que serão espalhadas nas redes sociais próprias e dos familiares.

“Vou enviar a foto pelo WhatsApp e colocar no Instagram e no Facebook”, conta Gabriel, todo orgulhoso, ao relatar que seu cogumelo, todo furadinho em cima, foi uma criação própria. “Eu quis fazer assim”, descreve o estudante, morador no Jardim Ipê e que não conhecia o Pavilhão da Bienal. “Agora, quero trazer meus pais”, afirma o pequeno artista.

Satisfação contemplada também por Rhaika. “Eu sei que é meu, porque coloquei umas pintinhas escuras em cima e estava um pouco rachado”, define sua arte a aluna e moradora de São Miguel Paulista, na zona leste.

O espanhol Antonio Ballester Moreno, 41, é um dos sete artistas-curadores convidados para pensar a 33ª Bienal de São Paulo. A proposta era descentralizar o comando, trabalhar no coletivo e democratizar o acesso a um dos principais patrimônios culturais paulista.

E ele fez a lição de casa na parceria com os alunos da rede municipal. “A ideia de trabalhar com crianças é simbólica, porque com esse trabalho quero falar de crescimento, criação e criatividade, que entendo como conceitos unidos”, afirma.

Para ele, o objetivo foi alcançado. “A técnica e o resultado final não são o que mais me preocupa. O mais importante é o processo. E, neste caso, haver implicado tantas crianças é algo muito satisfatório. Criou-se energia muito bonita em torno desse trabalho colaborativo. Entendo arte como criatividade. Todos, sem exceção, somos criativos.”

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