Duas novas estações do metrô de SP vão mudar fluxos e linhas da cidade

Após 20 anos de obra, ramal que sai do extremo sul terá conexão direta com centro e av. Paulista

Fabrício Lobel
São Paulo

A inauguração prevista ainda para este ano de duas novas estações do metrô de São Paulo vai modificar o fluxo de pessoas da cidade, esvaziar algumas linhas, encher outras, mexer com lotação de conexões e, principalmente, melhorar a vida de quem vive no extremo sul da cidade.

Um passageiro, por exemplo, poderá economizar mais de uma hora dentro do transporte público, a depender do deslocamento entre a casa e o emprego ou local de estudo.

As duas estações responsáveis por essa pequena revolução estão na linha 5-lilás e irão conectar o bairro do Capão Redondo, a 22 km do centro, às linhas 1-azul e 2-verde.

A estação Santa Cruz fará a conexão com a linha 1-azul, a mais antiga de São Paulo e que corta a cidade de norte a sul.

Já na estação Chácara Klabin, o passageiro da linha 5-lilás poderá fazer a transferência para a linha 2-verde, conhecida como a linha da avenida Paulista, que vai da Vila Madalena, na zona oeste, à Vila Prudente, na zona leste.

As duas novas estações ficam também na zona sul da cidade e fazem parte do último pacote de estações a serem entregues pelo governo do estado em uma linha que está em construção desde 1998 e deveria ter sido toda entregue em 2014.

“Com essas inaugurações, a gente vai montando uma rede de verdade, no sentido de que você tem diversas alternativas e cada um escolhe a que lhe for mais conveniente”, diz Luiz Antônio Cortez, gerente de planejamento do Metrô, vinculado ao Governo do Estado de São Paulo.

Estima-se que, com a nova linha finalizada, 244 mil passageiros passarão a usar o sistema sobre trilhos da Grande São Paulo diariamente. Essas pessoas hoje usavam outros meios de locomoção, como ônibus e carros, e deverão migrar para os trilhos, segundo os cálculos do Metrô.

Com as novas estações, novos fluxos de pessoas serão criados. O acesso dos moradores dos bairros de Capão Redondo, Jardim São Luís e Santo Amaro, por exemplo, será facilitado aos bairros do centro e à avenida Paulista

Esse novo trajeto do metrô permitirá também a redução de passageiros na linha 9-esmeralda, da CPTM (sistema de trens), que anda paralela ao rio e à marginal Pinheiros, e na linha 4-amarela, no que é atualmente o caminho mais fácil do morador do extremo da zona sul à região central.

Esse caminho atual, porém, dá uma volta desnecessária e é cheio de baldeações, que costumam trazer transtornos e espera aos passageiros.

O caminho entre Capão Redondo e a Sé, atualmente, custa ao paulistano uma viagem com três baldeações e 1 hora e 18 minutos, no mínimo. Após a conexão da linha 5-lilás com as demais, esse trajeto terá apenas uma baldeação, e o tempo cairá para 50 minutos, estima o Metrô.

A facilidade de acesso a bairros mais centrais passou a ser um argumento para venda de imóveis no Capão Redondo, segundo o consultor Albert Hudson, 35, que trabalha em uma imobiliária ao lado da estação de metrô do bairro.

“Não consigo estimar o tamanho dessa mudança para o bairro, mas é óbvio que há uma valorização dos imóveis daqui”, diz ele, que mora desde criança no extremo sul e diz que o metrô conectado é mais uma etapa na transformação que a região vem sofrendo nas últimas décadas. “Demorou para ficar pronto, mas agora parece que vai”.

Haverá ganho de tempo na locomoção de moradores de outros bairros também. O percurso entre a estação Grajaú, no extremo sul da linha 9-esmeralda da CPTM, para a Vila Mariana, na linha 1-azul, cairá de 1 hora e 23 minutos para 50 minutos, segundo o Metrô.

O morador de Itaquera, na zona leste, deverá economizar 35 minutos para chegar a Moema, bairro nobre da zona sul.

Os novos fluxos ajudarão a desafogar as conturbadas baldeações nas estações Pinheiros e Paulista/Consolação.

A estação Pinheiros é a que deverá ter a maior alívio. Por lá, o paulistano enfrenta todos os dias filas enormes nas escadas rolantes entre os trens e o metrô. Pelas estimativas do Metrô, o número de passageiros passando por ali deverá cair de 31.296 para 19.640 (redução de 37%), por hora no pico da manhã.

Até mesmo o corredor de ônibus da avenida 9 de julho, desde Santo Amaro ao centro, deverá sentir a diminuição de passageiros. O mesmo deve ocorrer com os ônibus que percorrem hoje o eixo das avenidas Vereador José Diniz e Ibirapuera.

A diminuição dos passageiros poderá se refletir em mais conforto, caso os trens, metrôs e os ônibus mantenham a mesma oferta de viagens.

Por outro lado, a nova linha 5-lilás terá seu número de passageiros bastante aumentado, indo dos atuais 320 mil passageiros diários para até 850 mil.

Para que a lotação dos trens não fique ainda pior nesse ramal, deverá ser aumentada a frequência dos trens. Hoje, a espera por um trem demora cerca de 3 minutos na linha 5-lilás, pela manhã, segundo a concessionária Via Mobilidade (cujos donos são a CCR e o Grupo Ruas, os mesmos que operam a linha 4-amarela). A concessionária diz estimar reduzir os intervalos, conforme aumente a demanda da linha.

“Do jeito que está, a linha 5 já é lotada, pois vem gente de todo o lado, Jardim Ângela, Itapecerica da Serra pegar esse Metrô”, analisa a cuidadora de idosos Valéria Viana, 24. “Nas outras linhas do Metrô, a gente espera 2 minutos. Aqui não, aqui demora muito”.

As linhas 1-azul e 2-verde também deverão ficar mais cheias com o passageiro que desistiu de dar a volta pelas linhas 9-esmeralda e 4-amarela para chegar às regiões mais centrais.

Outro ponto que deve ter aumento de público é a já lotada estação Sé. Durante o pico da manhã, o aumento deverá ser de 10% no número de pessoas, o que exigirá uma atenção do Metrô. Esse aumento de público deverá ocorrer por causa dos moradores da zona leste que, depois de saírem da linha 3-vermelha, poderão usar a linha 1-azul e depois a 5-lilás para chegar a bairros como Moema, Brooklin e Santo Amaro. Sem mostrar dados, o Metrô disse ser relevante o número de passageiros que fazem esse trajeto todos os dias. 

Outro gargalo nas baldeações deverá ocorrer na estação Santo Amaro, que hoje já liga a linha 5-lilás aos trens da CPTM. Por ali, o movimento de passageiros funciona da seguinte maneira: pela manhã, os moradores da periferia da zona sul deixam a linha 5-lilás e embarcam no trem, com destino às empresas que ficam na marginal Pinheiros, ou para irem até o centro da cidade. 

Já durante a tarde, o caminho é oposto. Já que quase todas as pessoas nessa conexão andam num mesmo sentido, o fluxo é facilitado. Com a linha 5-lilás inteira, a estação Santo Amaro deve receber passageiros dos dois sentidos ao mesmo tempo. Para absorver esse contingente, o estreito corredor entre as estações da CPTM e Metrô deverá ser ampliado. O prazo para que essa obra seja feita pela nova concessionária ViaMobilidade é até 2022.

Imagem mostra jovem em frente à estação Capão Redondo do metrô
O estudante Lander Pereira, 18, no Capão Redondo, onde vive - Zanone Fraissat/Folhapress

Um dos passageiros a se beneficiar com a inauguração da conexão da linha 5-lilás é o estudante Lander Pereira, 18. Lander cresceu durante as mudanças no bairro do Capão, numa geração cuja meta era um futuro mais ameno.

Com perspectiva de um ensino melhor, desde a 4ª série, a mãe já levava o filho para uma escola pública em Pinheiros, do lado de lá da ponte João Dias, que atravessa o rio Pinheiros e conecta o Capão a bairros mais centrais. O jovem cresceu enquanto via a construção da linha 5-lilás travada por suspeitas na licitação ou, depois da retomada das obras, com os corriqueiros atrasos.

Ele não é o único a ver a lentidão da construção. Ediene,  sua madrinha passou os últimos anos fazendo diariamente o caminho entre o Capão Redondo e o shopping Ibirapuera de ônibus. Pelo meio do caminho, passava por duas obras atrasadas do Metrô, a linha 5-lilás e a 17-ouro do monotrilho (que deverá ligar Congonhas ao Morumbi).

Hoje, com o avanço da linha 5-lilás, ela já consegue trocar o ônibus pelo metrô. Ainda assim, a construção da linha 17 continua atrasada e sem prazo para entrega. Aos 18 anos, Lander estuda num cursinho pré-vestibular na região da Paulista para passar em medicina. Por isso, às vésperas dos principais vestibulares do país, cada minuto de seu dia é precioso. Seu tempo é basicamente dividido entre algumas tarefas domésticas, muito estudo, pouco sono e longas horas no transporte público.

O Metrô estima que a economia diária de Lander com as novas estações será de 42 minutos ao dia, entre ida às aulas e volta para casa. Lander diz que, assim que a linha for totalmente entregue, usará o tempo extra para estudar.

Imagem mostra jovem em frente à estação Consolação do metrô
Lander Pereira, 18, na avenida Paulista, onde estuda; ele economizará 42 minutos por dia com novas estações - Zanone Fraissat/Folhapress

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