Paixão Côrtes era engenheiro agrônomo de formação e radialista. Mas, pesquisador da cultura popular, virou símbolo do gauchismo —e referência no estudo da identidade regional.
Nascido em Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com a uruguaia Rivera, começou cedo a trabalhar na Secretaria Estadual da Agricultura. Na mesma época, tornou-se liderança dos estudantes chamados de Grupo dos Oito Piquetes da Tradição —embrião do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Eram jovens do pós-guerra, que queriam fortalecer os costumes locais frente à pressão cultural americana. Entre eles, estava o escritor Barbosa Lessa. Os dois dedicariam anos às pesquisas folclóricas.
Viajavam aos rincões do estado para reconstituir as danças já quase esquecidas, como pezinho e balaio. Formaram um acervo com milhares de registros. Paixão, porém,se dizia um escrivinhador —aquele que só relata o que vê, não afeito às firulas literárias.
Como radialista, também usava seus programas para dar espaço à cultura popular. E, numa Europa que conhecia o Brasil pelo samba, Paixão passou cinco meses apresentando os passos gaúchos.
Em 1954, virou estátua. Posou para o escultor Antônio Caringi de trajes típicos: tirador, laço, guaiaca, bombacha, lenço, camisa, botas. “O Laçador” gravou sua imagem no imaginário do Sul. Hoje, a estatueta fica próxima ao aeroporto de Porto Alegre.
Por voto popular, foi escolhido como um dos “20 Gaúchos que Marcaram o Século 20”, entre figuras como Getúlio Vargas, João Goulart, Osvaldo Aranha e Mario Quintana.
Há um ano, após 70 de vida pública, Paixão decidiu dedicar-se à família e à saúde. Morreu no dia 27 de agosto, aos 91, por complicações pós-cirúrgicas. Deixa uma irmã, a mulher, três filhos e cinco netos.
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