Investimento em inteligência e investigação pode reduzir crime, diz pesquisadora

Também é essencial criar iniciativas preventivas e de controle ao crime, segundo especialistas

Debate sobre lançamento do livro "Segurança Pública para Virar o Jogo", com Samira Bueno, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Melina Risso, autora, Eduardo Scolese, jornalista da Folha, Ilona Szabó, autora, e Carolina Ricardo, do Instituto Sou da Paz
Debate sobre lançamento do livro "Segurança Pública para Virar o Jogo", com Samira Bueno, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Melina Risso, autora, Eduardo Scolese, jornalista da Folha, Ilona Szabó, autora, e Carolina Ricardo, do Instituto Sou da Paz - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Leonardo Neiva
São Paulo

Para combater a violência no país, o governo deve criar sistemas que unifiquem os dados sobre criminalidade para gerar um policiamento mais eficiente, aplicar mais verbas em investigação e inteligência policial e regulamentar o papel das prefeituras no Susp (Sistema Único de Segurança Pública), que entrou em vigor em julho deste ano.

 

Essas são as três principais iniciativas práticas para promover uma mudança na segurança pública brasileira, de acordo com Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé e colunista da Folha.

Ilona participou de debate na segunda-feira (3) para promover o lançamento de seu livro “Segurança Pública para Virar o Jogo”, escrito em parceria com Melina Risso, cofundadora do movimento Agora! e consultora para ONGs e governos.

O livro traça um panorama do sistema de segurança pública e da Justiça criminal no Brasil, procurando mostrar que há soluções possíveis e efetivas para tornar o país mais seguro.

Também participaram do debate a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, e a assessora da diretoria do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo. A conversa foi mediada por Eduardo Scolese, editor do caderno Cotidiano.

Para Ilona, o investimento em tecnologia de informação melhoraria a ação da polícia, permitindo mais patrulhamentos com foco em manchas criminais, locais com histórico de ocorrências. “O policial hoje vai às ruas de forma aleatória, ninguém está monitorando o percurso dele.”

Também é preciso investir recursos em investigação para elevar a taxa de resolução de casos de homicídio no país, afirmou Ilona. Hoje esse percentual gira em torno de 20%, de acordo com dados do Instituto Sou da Paz.

Na visão da autora, uma opção para conseguir verbas seria alterar a Lei das Drogas. A descriminalização do usuário, disse ela, liberaria parcela significativa do contingente policial e de recursos financeiros que poderiam ser usados no combate aos crimes violentos.

A pesquisadora vê com ressalvas a implementação do Susp, iniciativa recente do governo que prevê sistemas de compartilhamento de dados entre as forças policiais e os estados, levando à criação de um banco de dados nacional sobre criminalidade, nos mesmos moldes do Datasus (do Sistema Único de Saúde).

“Ainda não ficou claro o papel dos municípios, isso terá que ser regulamentado. Para virar o jogo de verdade, é preciso criar políticas de desenvolvimento social e econômico concentradas nos locais, grupos e comportamentos mais vulneráveis à violência.”

Melina Risso reforçou o argumento. “Nos municípios, há uma série de iniciativas que podem ser tomadas para reduzir a criminalidade, como investir na primeira infância no âmbito escolar, visando atrair e reter os jovens nas escolas por mais tempo”, afirmou.

O ensino médio representa uma chance de os jovens se inserirem no mercado, disse Melina, mas a baixa qualidade da educação acaba por afastá-los das escolas e, em alguns casos, empurrá-los para a criminalidade. Conforme informações relativas a 2017 do Departamento Penitenciário Nacional, 75% da população carcerária não chegou a cursar o ensino médio.

Carolina Ricardo defendeu a criação de mecanismos para integrar o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a outras forças de segurança pública, de forma a transformar o combate ao crime organizado em uma política do governo federal.

Também seria importante estabelecer outros tipos de punição que não o encarceramento no caso de crimes mais leves, pois o modelo atual apenas cria contingente para as fileiras das facções, declarou.

Outro problema, na avaliação de Samira Bueno, é a ideia de que liberar o porte de armas tornaria os cidadãos menos vulneráveis, mito que tem ganhado visibilidade na sociedade.

“Há uma série de evidências científicas que mostram que, quanto mais armas estão em circulação, mais mortes vão acontecer. Muitos ignoram que as pessoas se agridem por pouca coisa”, afirmou a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Um dos desafios atuais, afirmou, é levar a discussão para o campo das estatísticas. “Precisamos desideologizar esse debate e começar a olhar para os números.”

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