Conceição foi, a vida inteira, uma "torcedora raiz". Em dia de jogo, chegava muitas horas mais cedo ao estádio Moisés Lucarelli, em Campinas (SP), e torcia do primeiro ao último minuto da partida, enquanto fumava seus cigarros. Era reconhecida por todos.
O amor pela macaca —mascote e apelido da Ponte Preta— começou na adolescência, quando migrou da pequena Casa Branca (SP) para Campinas.
Chamava os jogadores da Ponte de "meus meninos" e os recebia antes de toda partida com abraços e bênçãos.
Quando o jogo era fora de casa, Conceição, que trabalhou a vida toda com serviços de limpeza, chegava mais cedo ao estádio adversário para limpar o vestiário que seria usado pelos seus meninos. Se necessário, jogava sal grosso no recinto para espantar o azar.
Deixou de viajar atrás do time quando sofreu o primeiro acidente vascular cerebral, em 2008. Mesmo cadeirante, com a ajuda da diretoria do clube, continuava indo ao estádio campineiro.
Casou-se duas vezes. No segundo casamento, foi interpelada pelo cônjuge: era a Ponte Preta ou ele. Separaram-se. Era assim, espontânea e resolvida.
Tinha os olhos verdes, mas não gostava deles —é a mesma cor do arquirrival campineiro, o Guarani. A rivalidade histórica, porém, era respeitada: contou, em entrevista, que tentou furar o esquema de segurança do papa Bento 16 para presenteá-lo com camisas dos dois times.
Chamar Conceição de torcedora talvez seja pouco para o papel que representou. Muitos se referem a ela como a mãe da Ponte Preta. Os filhos respeitavam a escolha e a dividiam com o clube.
Morreu no último dia 2 de setembro, aos 81 anos, em decorrência de outro derrame. Deixa os filhos Elizabet, Eliete e Carlos, oito netos, nove bisnetos, uma trineta e a Associação Atlética Ponte Preta.
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