Quando criança, Lourdes gostava de brincar de escola. Queria ser a professora da turma e cabia à criançada de Juazeiro, na Bahia, experimentar os primeiros ensinamentos da futura mestra.
Sua cidade, porém, não dispunha de ensino ginasial à época. A opção era a Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina (PE) —para onde Lourdes ia entre 1931 e 1936, atravessando o rio São Francisco em paquetes.
Logo daria aula no colégio onde se diplomara. Certo dia, um senhor pediu licença e entrou. “Eu sou o inspetor escolar. Vou assistir à aula”, disse.
Naqueles idos, Lourdes não havia sido apresentada à tal figura. Respondeu um “tá bem” e continuou as lições de ciências. Ao final, ele perguntou: “A escola é registrada?”. Ela aventou uma explicação, mas foi interrompida. “Não é possível uma escola dessa não ser registrada! Com poucos dias você vai receber o registro” —seu primeiro reconhecimento.
O primeiro registro profissional, porém, data de anos depois, quando Lourdes passa a exercer o cargo de regente escolar em 1950. Foi ela que fundou a Associação de Pais e Mestres de Juazeiro, que durante 20 anos ampliou o relacionamento entre a escola, a família e a comunidade.
Tinha ainda ações religiosas e voluntariosas, como nas Obras Sociais e Educativas da Diocese de Juazeiro e na Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), inclusive após se aposentar, nos anos 1980.
Confessou que, se um dia pudesse retornar à vida, gostaria de nascer de novo em Juazeiro, que, para ela, é o lugar onde “cada vez mais a gente vai assumindo a terra e a terra assumindo a gente”.
A professora Lourdes deixou esta terra no dia 26 de agosto, de forma natural, aos 101 anos.
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