Mulher suspeita de participar de assassinato da PM Juliane é presa em SP

Soldado ficou 5 dias desaparecida após ser pega por bandidos em Paraisópolis

São Paulo

A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta segunda-feira (10) uma mulher de 29 anos sob a suspeita de participação na morte da soldado Juliane dos Santos Duarte, 27, no mês passado, em São Paulo. 

Essa é a terceira pessoa presa durante as investigações. A prisão temporária foi determinada pela Justiça a pedido dos policiais do DHPP (departamento de homicídios) que assumiram as investigações.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública não informou o nome da mulher nem outros detalhes, sob a alegação de que "o inquérito encontra-se em segredo de Justiça".

Segundo a Folha apurou, a mulher se chama Eliane Cristina Oliveira Figueiredo, conhecida como Neguinha, e seria ligada ao tráfico de drogas na região de Paraisópolis, zona sul.

A prisão temporária tem um prazo de 30 dias.

Juliane foi sequestrada por criminosos em 2 de agosto passado quando bebia cerveja com amigas em um bar em Paraisópolis. A comunidade com pouco mais de 60 mil habitantes é dominada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Segundo testemunhas, após Juliane se identificar como policial nesse bar, frequentadores do espaço informaram aos bandidos sobre a presença dela. Quatro deles teriam aparecido, três deles com capuz, e levado a PM para um local desconhecido, após ter acertado um tiro na perna dela.

O corpo de Juliane foi encontrado dias depois dentro do porta-malas de um carro no bairro de Jurubatuba, a 8,5 km de onde havia sido vista pela última vez. A soldado da PM deve ter permanecido por mais de 24 horas em poder de criminosos antes de ser assassinada com um tiro na cabeça. A avaliação é da cúpula da Polícia Militar de São Paulo, após uma perícia no corpo da policial. 

Segundo policiais, dificilmente alguém mataria um policial na comunidade, conhecida como um reduto do PCC, sem uma ordem dos chefes da facção da região. Isso porque a morte de um policial militar, sabidamente, provocaria reações por parte dos colegas e, em caso de repercussão, da cúpula da corporação. Isso explicaria, em tese, a razão pela qual a policial não foi morta em um primeiro momento. Os criminosos provavelmente consultaram instâncias superiores até decretarem a morte dela.

A avaliação dos criminosos leva em conta os prejuízos que operações policiais na favela poderiam provocar com a interrupção da venda de drogas. Paraisópolis é considerada uma das principais "bocas de fumo" de toda a capital, responsável pelo abastecimento de cocaína da classe média da zona sul. 

A polícia já havia prendido Felipe Oliveira da Silva que, segundo as investigações, seria a pessoa que abandonou a moto da soldado em Pinheiros, na zona oeste, logo após o desaparecimento da PM.

A identificação de Felipe foi facilitada após a polícia analisar imagens de câmeras da rua que mostram a hora em que ele estaciona a moto. 

A polícia paulista também já havia prendido, pouco tempo antes de o corpo da soldado ter sido encontrado, o suspeito Everaldo Severino da Silva, 45, o "Sem Fronteira", após denúncias anônimas ligarem a participação dele ao assassinato.

Os riscos até para os policiais na favela de Paraisópolis foram evidenciados em novembro do ano passado pela diretora do DHPP, a delegada da Polícia Civil Elisabete Sato. Durante evento sobre segurança pública, ela disse que a polícia paulista enfrentava problemas ao entrar em favelas, incluindo Paraisópolis. "Eu converso muito com nossos investigadores. E nossos investigadores me falaram na semana passada: 'Diretora, está difícil entrar em Paraisópolis [...] Nem a PM nem a Rota estão entrando lá'", disse.

Na época, o governo negou tal dificuldade e, em resposta à delegada, a PM fez operações naquele mesmo dia. Na ocasião, o ainda secretário de Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, também reagiu às afirmações da delegada. "A afirmação de que as polícias de São Paulo têm dificuldade em cumprir seu trabalho, seja em comunidades ou em qualquer outro lugar, é o mais completo absurdo." Ele citou operações e prisões recentes na favela de Paraisópolis.

Moradores da região, porém, deram razão à delegada.

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