Roubos e furtos crescem pelo 2º ano consecutivo no metrô e na CPTM

Alta foi de 5,6%; governo diverge de dados e afirma que houve queda

Passageiros caminham pela estação Barra Funda do Metrô manuseando aparelhos de celular
Passageiros caminham pela estação Barra Funda do Metrô manuseando aparelhos de celular - Robson Ventura/Folhapress
Thiago Braga William Cardoso
São Paulo | Agora

Pelo segundo ano consecutivo aumentou o número de roubos e furtos no Metrô e na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

De janeiro a junho deste ano houve 1.839 casos de roubo e furto, número 5,6% maior do que o mesmo período em 2017, quando houve 1.741 casos. O ano passado já havia apresentado um aumento de 18,9% em relação ao primeiro semestre de 2016.

Os números foram obtidos via Lei de Acesso à Informação e consideram os casos de roubos e furtos registrados tanto na Delegacia de Polícia do Metropolitano quanto nas delegacias de bairro.

O Metrô diverge das informações da Secretaria de Segurança Pública obtidas pela reportagem e diz que houve queda neste tipo de crime. A última redução nos assaltos e furtos no Metrô e na CPTM aconteceu em 2016, quando houve uma queda de 6,7% nestes dois crimes.

Em 2018, foram 1.594 furtos, quando a vítima tem algum pertence subtraído sem perceber, e 245 roubos, quando o assaltante anuncia a ação e leva os pertences.

Para o analista de segurança Guaracy Mingardi, o custo-benefício para quem pratica furtos e roubos no metrô é alto, motivando o crescimento desta modalidade. “Roubo é um crime profissional. O custo é a possibilidade de ser preso, mas o benefício é muito grande, porque celular é fácil de roubar, vende fácil, e dá lucro para os bandidos”, analisa o especialista.

Segundo ele, o roubo é mais fácil de ser coibido no Metrô e na CPTM por conta da grande quantidade de câmeras espalhadas pelas duas companhias. Segundo o Metrô, são mais de 13 mil equipamentos de monitoramento em todo o sistema fazendo a vigilância dos passageiros.

De acordo com o especialista, para diminuir o número de ocorrências é preciso ter um trabalho investigativo e não focar só em quem pratica os furtos e roubos. “Só consegue resolver o problema do furto indo direto nos receptadores. Para isso é preciso aparelhar a Polícia Civil para fazer investigação. Se não, vai continuar o roubo”, afirmou.

Uma das principais dicas de segurança é andar sempre com os pertences próximos ao corpo. “Eu procuro sempre ficar muito atenta. Não mexo no celular, deixo o bilhete fácil para não ter que pegar a carteira”, revela a estudante Agatha Calegari, 20, que caminhava pela estação Barra Funda com a mochila na frente do corpo.

Uma assistente de atendimento de 39 anos conta que foi assaltada em dezembro do ano passado, na plataforma da estação USP-Leste, da linha 12-safira da CPTM. Ela diz que estava sentada em uma cadeira, usando o WhatsApp, enquanto aguardava o trem. “De repente um homem se aproximou e tomou o celular. Ele me olhou e disse: ‘não reage’. Depois ele desceu no trilho, atravessou para o outro lado, pulou o muro e fugiu.”

DISTRAÇÃO

Os assaltos dentro de locais de transporte público não são novidade. Há seis anos, um coordenador de call center, 41, desceu a rampa da estação Santa Cecília, da linha 3-vermelha do metrô, quando foi seguido por dois homens. “Um deles anunciou o assalto ao colocar uma arma na minha barriga. Fiquei com medo porque não tinha nada na carteira. Entreguei o celular, velho, e ele disse que não queria aquela porcaria.” As vítimas preferiram não se identificar.

Uma das dicas para quem quer evitar ser assaltado ou furtado é não criar condições favoráveis para os bandidos. Uma rápida passagem da reportagem pela estação Barra Funda, da linha 3-vermelha do metrô, mostrou que a desatenção é grande entre os passageiros.

“Às vezes, o celular distrai a gente. Isso chama a atenção. Já tive amigos que foram roubados e a partir de agora vou deixar o celular guardado”, diz a estudante Fernanda Abrosio, 21.

Outra passageira distraída foi Mariana Quallio, 23. Ela transitava pela Barra Funda com a mochila aberta. “Penso que de dia não tem roubo. Vou deixar a mochila do lado agora”, afirma.

OUTRO LADO

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos, da gestão Márcio França (PSB), diz que “Metrô e CPTM desenvolvem ações regulares de segurança e contam, ao todo, com mais de 11 mil câmeras de vigilância instaladas em pontos estratégicos e 2.500 agentes, uniformizados e à paisana”.

Afirma também que, “considerando que de janeiro a junho cerca de 1,3 bilhão de passageiros foram transportados, 1.839 casos dão média de 0,000001 ocorrência por passageiro”. Segundo a secretaria, de janeiro a agosto, o número de ocorrências “diminuiu 14% em relação a igual período de 2017, caindo de 313 casos (0,43 ocorrência por milhão de passageiros) para 273 casos (0,37)”.

Essas ocorrências, segundo a nota, são registradas na Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano). A secretaria diz que, na CPTM, houve um crescimento de 22% neste ano nas prisões em flagrante —o índice é de uma ocorrência por milhão, segundo a secretária, e era de três por milhão em 2008.

A Delpom diz que realiza operações nas estações, principalmente naquelas onde o fluxo de usuários é mais intenso. “Essas ações possibilitaram redução de 16% dos casos de roubos, de janeiro a junho de 2018 em comparação com 2017. Se levarmos em consideração os dados até julho, a queda é de 14% nos roubos”.

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