Descrição de chapéu Obituário Maria Amélia Albuquerque Sirotheau (1934 - 2018)

Mortes: 'Conhecedora dos caminhos', foi ativista social discreta

Cartorária usou função para ajudar comunidade em Santarém (PA)

Paulo Gomes
São Paulo

"Meu amigo, ajude essa pessoa", dizia Maria Amélia ao telefone. Ao seu lado, alguém com olhar desamparado aguardava. Na linha, do outro lado, estava o Ministério Público, o médico de algum hospital ou a Defensoria Pública. Ela sabia quem acionar.

Distante de capitais ou grandes centros urbanos, a paraense Santarém de meados do século passado não era o que se podia chamar de uma cidade com forte presença do poder público. Assim, muitas vezes a população carente e de baixa instrução não tinha a quem recorrer que não fosse a igreja ou, curiosamente, o cartório de Maria Amélia.

"Ela foi uma ativista social absolutamente discreta", conta o filho Geraldo. Cartorária na cidade por mais de meio século, ficou conhecida por prestar um papel de assistente social a quem não sabia como buscar seus direitos.

Filha de migrantes nordestinos atraídos pelo extrativismo na Amazônia, dona Amélia fez coisas que as mulheres de seu tempo não faziam, ainda mais naquele rincão. Trabalhava desde os 15 anos fora de casa, em distribuidora de petróleo. Ainda jovem foi sozinha para a capital Belém, cursar o magistério.

Deu aulas ao retornar, mas aos 30 o marido Sebastião assumiu a titularidade do cartório do 1º Ofício de Notas e Registro de Imóveis e ela entrou como tabeliã substituta.

Fez ainda um trabalho de preservação documental no cartório comparável ao de um museu —nos arquivos há até escrituras de compra e venda de escravos no século 19.

Morreu no último dia 2, após um infarto, aos 84 —com 54 anos na função, era a cartorária mais antiga em atividade no Pará. Nunca tirou férias. Deixa os filhos Tomaz, Paulo Roberto, Geraldo e Hélder Vianey, oito netos e quatro bisnetos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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