Rio, Suíça, Israel, Roma, Londres, Porto Alegre, Maceió, Florianópolis, Niterói: Beto foi um homem itinerante. Mesmo quando adotou residência fixa, seguiu viajando por causa de seus trabalhos. Ou talvez as profissões que escolheu tenham sido uma expressão de seu espírito nômade.
Filho de pai suíço e mãe brasileira de origem russa-polonesa, o carioca foi morar na Suíça por volta dos 11 anos. Trocou a praia de Copacabana pela patinação no gelo com o irmão, o chucrute da avó e os muitos cães basset da família.
Voltou ao país após três anos. De família judia, aos 17 foi para Israel, trabalhar com um amigo em um kibutz. O serviço era braçal, dirigir trator, plantar laranja.
A opção pela graduação de hotelaria foi natural para alguém com a viagem no sangue e que gostava de socializar. Conseguiu uma bolsa em Roma e, depois de formado, foi morar em Londres.
Na capital inglesa, atendeu ao pedido de um amigo para ciceronear uma bailarina brasileira que estava em turnê pela Europa. Quando ela continuou viagem com a companhia de dança, ele foi encontrá-la de surpresa, em Veneza. O grupo se viu então forçado a seguir com uma artista a menos, que voltou para Londres com ele. Lá, viveram em ocupações. Não que não ganhassem dinheiro, mas gastavam tudo —em viagens.
No Brasil, tiveram o primeiro filho e levaram uma vida de hotel, de cidade em cidade. Quando a segunda criança nasceu, Mônica achou que era hora de se assentar.
Beto então mudou de área e começou carreira no ramo da iluminação de eventos, como desfiles de carnaval na Sapucaí, grandes shows e exposições. Não parou quieto. Nas férias, levava as crianças na Marajó vermelha, a "Pomarola", para o Sul, para Brasília. Abaixava os bancos, colocavam colchonetes e elas curtiam a estrada deitadas.
Trouxe novas tecnologias de iluminação para o país e ficou conhecido no ramo, chegando a atuar na abertura da Copa do Mundo de 2014 e na abertura e no encerramento das Olimpíadas do Rio, em 2016. Nos últimos tempos, passou um ano e meio nas Filipinas a trabalho e pensava em vender tudo para, curiosamente, ficar viajando.
Uma mente é como um paraquedas, dizia o roqueiro Frank Zappa, de quem Beto tinha todos os CDs originais. Não funciona se não estiver aberta.
O espírito livre foi conhecer novas paragens no dia 19, um mês após, em Lisboa, descobrir um câncer já avançado. Deixa a mulher, Mônica, companheira pelos últimos 35 anos, os filhos Millos e Claraluz, e o irmão Ricardo Luís.
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