Descrição de chapéu Obituário Daniela Rennó Assunção (1968 - 2018)

Mortes: Percussionista, foi pioneira em Belo Horizonte

Seu repertório ia do choro ao jazz, passando por samba, maracatu e ritmos afro-brasileiros

Thaiza Pauluze
São Paulo

Dos quatro irmãos, três tiveram aula ou de piano ou de violão. Só que foi a caçula, quase autodidata, a musicista da família.

Daniela Rennó, vibrafonista, baterista e percussionista, foi pioneira em BH
Daniela Rennó, vibrafonista, baterista e percussionista, foi pioneira em BH - Arquivo Pessoal

Daniela Rennó começou a carreira tocando com a sua maior influência, o grupo Uakti. Aprendeu percussão, marimba, vibrafone —com instrumentos construídos pela própria banda. Acabou sendo a primeira mulher a ser chamada para tocar com eles. À época, era também percussionista pioneira em Belo Horizonte, cidade em que cresceu.

A mineira nascida em Itajubá, num parto feito pelo avô médico, era filha de pai engenheiro civil e mãe advogada. Chegou a cursar comunicação social, mas largou no último ano para se dedicar à música.

Como compositora, seu repertório ia do choro ao jazz, passando por samba, maracatu e ritmos afro-brasileiros. Foi baterista de um grupo de rock e vibrafonista solo até criar um quarteto com o marido, o músico Márcio Bahia, e ser novamente a primeira mulher, desta vez, a vencer o Prêmio BDMG Instrumental, em 2009. 

Conheceu Bahia sendo também a única mulher da academia dele de kung fu. Para Daniela não apanhar dos homens, ele ensinava técnicas de meditação. Ela virou faixa preta na luta. Certo dia, numa blitz, foi reconhecida pelos policiais, conta a filha Samantha, 34. "Eles diziam, rindo, 'ah, era você que batia em todo mundo, até no sargento'."

Samantha seguiu o caminho da matriarca, virou percussionista e hoje dá aula para ao menos 40 mulheres, que vieram na esteira do sucesso e coragem de sua mãe.

Daniela abriu as portas para várias novas artistas em seu estúdio próprio —realização que conseguiu após um curso de engenharia de som nos EUA. 

Além de receber aqueles que não podiam pagar, virou referência no estado e local para ensaio de artistas como Luiz Melodia, Chico César, Elza Soares, Lenini. Gravou o DVD de Lô Borges e a trilha sonora do filme "Ensaio Sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles.

Há algum tempo Daniela gravava seu próximo CD —​que a família vai finalizar. A instrumentista morreu no dia 5 de outubro, aos 50, após um infarto. Deixou a mãe, três irmãos, o marido e a filha.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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