Ouvidoria de SP suspeita que 4 menores mortos pela PM não reagiram à abordagem

Adolescentes roubaram carro e foram mortos em favela após perseguição policial

Policiais da Corregedoria da PM entram na favela do Areião pra investigar morte de 4 adolescentes no último dia 6
Policiais da Corregedoria da PM entram na favela do Areião pra investigar morte de quatro adolescentes - Reprodução
 
Rogério Pagnan Alfredo Henrique
São Paulo

A Ouvidoria das Polícias afirma ter indícios de que quatro adolescentes de uma favela da zona oeste de São Paulo não reagiram à abordagem policial antes de terem sido mortos por uma equipe da Força Tática da PM no último sábado (6).

Segundo essa suspeita, os jovens de 15 a 17 anos foram assassinados após terem se rendido aos policiais, ou seja, a versão dos policiais de que houve um confronto teria sido criada pelos PMs para justificar as quatro mortes na favela do Areião, no Jaguaré.

As mortes ocorreram após perseguição que terminou dentro da comunidade logo após a PM ter identificado como roubado o carro em que os quatro adolescentes ocupavam, um Ford Focus preto.

A avaliação do ouvidor Benedito Mariano foi feita após contatos com a delegacia de chacinas (do departamento de homicídios), responsável pela investigação, e com a Corregedoria Geral da Polícia Militar, outro braço da apuração.

“A Ouvidoria está trabalhando com o indício de ter sido uma intervenção policial sem o confronto armado. Os testemunhos de pessoas próximas à ocorrência estão indicando que não houve tiros nos policiais por parte das vítimas.”

O ouvidor diz aguardar laudos periciais para, em seguida, emitir um relatório que confirmará ou afastará essa tese. Entre os laudos aguardados estão os feitos no local do confronto, nas armas apreendidas e dos corpos dos mortos.

Uma das principais testemunhas desse caso é uma adolescente de 15 anos que estava no veículo com os adolescentes. Ela afirmou à polícia não ter visto nenhum deles armado.

Na tarde desta terça (9), a adolescente prestou depoimento à Polícia Civil e afirmou ter sido ameaça pelos PMs casos contasse que as mortes dos quatro ocorreram quando eles já estavam rendidos.

“Pediremos que a Secretaria [da Justiça] avalie com urgência a possível inclusão dela no programa de proteção de crianças e adolescentes”, diz o advogado Ariel de Castro, do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), que acompanhou o depoimento.

O suposto confronto que levou à morte dos quatro ocorreu por volta das 19h40. Eles  estavam em veículo roubado por eles de um motorista de aplicativo na Vila Leopoldina, também na zona oeste, quatro horas antes das mortes.

O dono do carro disse à polícia que três adolescentes entraram no carro, um no branco da frente e dois no banco de traseiro. A vítima disse que um dos que estavam atrás “simulou” estar armado.

Carro onde estavam adolescentes mortos a tiros por PMs em São Paulo
Carro onde estavam adolescentes mortos a tiros por PMs em São Paulo - Reprodução/TV Globo

Na tarde desta terça (9), equipes da Polícia Civil e da Polícia Militar estiveram na favela em busca de testemunhas ou imagens que possam ajudá-lo no esclarecimento.

Segundo o corregedor-geral, o coronel Marcelino Fernandes, os policiais envolvidos foram afastados das ruas até o término da apuração que será feita pela Corregedoria, por parte da PM. “Vamos trabalhar juntos com o DHPP [da Polícia Civil] para apuração dos fatos”, disse o oficial.

Moradores e familiares das vítimas ouvidos pela reportagem dizem que os quatro foram mortos já rendidos.“As pessoas ouviram eles dizendo: ‘Perdemos, senhor. Perdemos’”, diz Flávia (nome fictício), mãe de um dos adolescentes mortos pela PM.

A favela do Areião tem apenas quatro ruas e 540 casas de alvenaria, segundo controle da associação dos moradores que funciona como uma unidade dos correios local.

Os moradores dizem ainda que a comunidade é pacífica, sem controle do crime organizado, e que nunca houve no local ação violenta da PM e outros confrontos com criminosos. “Nunca tivemos problemas com a polícia. Agora, não posso ver ninguém de farda que quero xingar”, disse Maria (também fictício), tia de uma das vítimas.

Os familiares contam que os quatro adolescentes cresceram juntos e, até o começo deste ano, tiveram uma vida sem problemas com Justiça.

Desde janeiro, porém, três deles foram flagrados portando ou vendendo drogas. Um deles também era suspeito de participação no roubo de um carro, nas mesma circunstâncias do caso de sábado.

Dizem ainda que os adolescentes não eram violentos e que possivelmente roubaram o carro para exibi-lo para a adolescente. “Não estou dizendo que eram santos, mas a polícia não está aí para servir e proteger?” disse Flávia

Com Agora

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