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Polícia investiga a morte de cinco bebês em maternidade da Grande São Paulo

Casos ocorreram em unidade em Caieiras. Delegada quer ouvir equipes do hospital

Thiago Braga
São Paulo | Agora

A Polícia Civil investiga a morte de cinco bebês na Maternidade Estadual de Caieiras (Grande SP), nos últimos dois anos. Elas teriam ocorrido durante o trabalho de parto. A primeira foi em junho de 2016, outra em dezembro de 2017 e mais três em setembro deste ano.

A mãe de um dos bebês acusa o hospital de negligência e de violência obstétrica. Diz que os médicos forçaram o parto normal “até não ter mais jeito”. A demora, diz ela, ocasionou a morte do filho. O hospital nega.

Fachada da Maternidade Estadual de Caieiras, na Grande SP, onde cinco bebês teriam morrido no parto - Denis Castro/Futura Press/Folhapress

“Cheguei ao hospital, fiz um ultrassom e me falaram que o parto seria naquela noite. Começou o maior pesadelo da minha vida”, relembra a dona de casa Verônica Silva Alves, 35 anos.

“Toda a equipe médica me tratou mal. Todo o mundo me tocou com agressividade. O chefe da equipe falou que eu era preguiçosa. Tirou todo o mundo do quarto e falou que sozinha eu iria fazer a força necessária para o bebê nascer. Eu sabia que eu estava morrendo e senti quando ele morreu dentro de mim”, lamentou Verônica.

Ela afirma que só depois que as contrações pararam ela foi encaminhada ao centro cirúrgico para a cesárea por outra médica.

“Quando nasceu, o médico da UTI veio correndo e me falou que a situação era grave, que iam fazer de tudo. Uma hora depois me deram a notícia de que ele havia morrido. Entrei em choque e chorei três dias seguidos. Depois, fui tomado pela ira”, afirma Moisés Barbosa Alves, 27, montador, pai do bebê. A causa da morte foi asfixia neonatal grave.

“Os médicos vão ter que justificar a conduta adotada”, diz Virgina Sellmer, delegada da Delegacia de Caieiras, que investiga o caso. Ontem, Verônica passou por exame de corpo delito. A polícia vai convocar as equipes médicas envolvidas nos cinco casos e analisar as fichas e os prontuários dos partos.

‘MÉDICO NÃO PODE FORÇAR PACIENTE’​

Para Alexandre Pupo, médico obstetra do Hospital Sírio Libanês, o ideal para evitar situações de conflito é que sempre haja consenso entre médico e paciente.

“Não se deveria forçar ninguém a fazer nada. É direito da mulher tomar a decisão a partir de 39 semanas completadas, se quer que o bebê nasça de parto normal ou cesariana”, explica.

A menos que seja gravidez de alto risco. “Aí o médico deve explicar para a família e, juntos, chegarem a uma decisão. Mas se mãe ou bebê estiverem sob risco de morte, o médico tem o direito e o dever de exercer autoridade sobre o paciente, pois o conhecimento final é dele”, afirmou o especialista.

Ele faz questão de ressaltar que o aumento recente nos conflitos entre médicos e pacientes é fruto de um sistema de saúde brutal. “Isso gera no médico estresse, ele reage no paciente e entra numa rota de colisão. Não tem nada a ver com medicina.”

OUTRO LADO

Segundo o diretor técnico do Complexo Hospitalar do Juquery, que administra a Maternidade Estadual de Caieiras, Glalco Cyriaco, não há prática para forçar as pacientes a ter os bebês por parto normal.

“O hospital segue os procedimentos técnicos recomendados pelo Ministério da Saúde”, garante Glalco. Segundo ele, são aproximadamente 2.500 partos por ano realizados na unidade, com taxa de nove óbitos a cada mil nascimentos, o que estaria na média para o estado de São Paulo.

Sobre Verônica dizer que foi abandonada no quarto, ele diz “que o hospital repudia esse comportamento”, e que o hospital vai apurar. A Secretaria de Segurança Pública, sob gestão Márcio França (PSB), disse em nota que “solicitou documentos hospitalares e funcionários do hospital serão ouvidos nos próximos dias” para seguir as investigações.

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