Promotoria denuncia três por morte de soldado Juliane em Paraisópolis

"Ela foi brutalmente torturada", diz o promotor de justiça

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O Ministério Público de São Paulo denunciou nesta segunda-feira (8) três pessoas sob a suspeita de participação no cárcere privado, tortura e morte da soldado Juliane dos Santos Duarte em agosto deste ano.

Na lista de suspeitos estão dois homens, Everaldo Severina da Silva Felix, (Sem Fronteira), Felipe Oliveira da Silva (Tirulipa) e também uma mulher, Eliane Cristiana Oliveira Figueiredo (a Neguinha) —os três estão presos.

Segundo a Promotoria, Felix seria importante chefe do PCC na favela de Paraisópolis, onde Eliane também teria um ponto de vendas de drogas, as chamadas “biqueiras”.  O principal membro do tráfico na favela, identificado pela Promotoria como Gordão, também pode estar envolvido no crime.

A soldado Juliane dos Santos, vista pela última vez em um bar dentro da favela de Paraisópolis, na Zona Sul da capital - Divulgação

A policial militar foi feita refém quando tomava cerveja com amigas em um bar em Paraisópolis, zona sul da capital paulista, favela dominada pelo PCC. Ela foi sequestrada na madrugada do dia 2 e mantida em cárcere privado por pelo menos três dias antes de ser morta pelo grupo.

Seu corpo foi encontrado apenas na noite do dia 6 no porta-malas de um veículo Honda Civic abandonado em uma rua de Jurubatuba, também na zona sul, a 8,5 km do local onde a PM desapareceu.

A perícia diz que ela foi morta de 24 a 36 horas antes de ser encontrada, ou seja, entre os dias 4 e 5. Há a possibilidade de a PM ter sido morta dentro do porta-malas e com a pistola .40 da corporação.

Juliane tinha marcas de tiros na virilha e na cabeça.

Segundo o promotor Fernando Cesar Bolque, autor da denúncia, os criminosos mantiveram a PM refém com o único propósito de castigá-la antes de matá-la. “Ela foi brutalmente torturada”.

Bolque disse que, pelos exames feitos na vítima, os criminosos também utilizaram álcool e cocaína nesse processo de imposição de “intenso sofrimento físico ou mental”. Esse tipo de ação com drogas é considerado incomum.

Segundo o laudo pericial, reproduzido na denúncia, a policial foi “mantida em ambiente molhado, em cárcere privado, com suas roupas molhadas de sangue, sem as mínimas condições de higiene”.

Continua o relato pericial: “[...] O lapso temporal entre os ferimentos da virilha e crânio nos permite afirmar que foi mantida com sangramento até o momento da sua execução com um tiro em segmento craniano. Tais elementos nos permitem afirmar que houve tortura e utilização de meio cruel”.

Ainda de acordo com a Promotoria, Felix teria sido o responsável pela ordem de matar a PM. Nos celulares do suspeito, apreendidos pela polícia na investigação, foram detectadas mensagens nas quais ele mandava dar “sumiço” em alguém que seria militar.

Para o promotor, não há muitas dúvidas de que a ordem seria para matar a policial, até por causa do momento em que elas foram trocadas.

A Promotoria aponta que Neguinha e Tirulipa estavam entre as quatro pessoas que foram até ao bar para render a PM. Assim, para a Promotoria, pelo menos mais dois homens participaram da ação.

Pelos cálculos de Bolque, se condenados, cada um dos suspeitos pode pegar pena mínima de 30 anos de prisão.

A Folha não conseguiu contato com os advogados dos suspeitos nesta segunda.

O CASO

Juliane foi sequestrada por criminosos em 2 de agosto quando bebia cerveja com amigas em um bar em Paraisópolis. A comunidade com pouco mais de 60 mil habitantes é dominada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Segundo testemunhas, a soldado foi levada por bandidos ainda com vida. Ela teria ficado em poder dos criminosos até que seu destino fosse decidido, em uma espécie de tribunal do crime.

corpo de Juliane foi encontrado quatro dias depois dentro do porta-malas de um carro no bairro de Jurubatuba, a 8,5 km de onde havia sido vista pela última vez.

 
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