Descrição de chapéu Mobilidade urbana

Com bloqueios, marginal Pinheiros tem lentidão, laterais cheias e 'efeito funil'

Reportagem percorreu toda a marginal no primeiro dia 'normal' após feriado

Thiago Amâncio Thaiza Pauluze
São Paulo

​​​Trânsito acima da média e "efeito funil": assim foi a primeira manhã de pico da marginal do rio Pinheiros, em São Paulo, onde um viaduto se rompeu na madrugada da última quinta-feira (15), o que deixou fechada boa parte da pista expressa da via.

A capital paulista teve 153 km de lentidão na manhã desta quarta (21), primeiro dia útil de volta do feriadão após o incidente. O trânsito ficou 25% acima do limite histórico, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Em toda a zona oeste, onde fica a marginal Pinheiros, os pontos de parada somavam 41 km.

Motoristas saíram mais cedo e tomaram caminhos alternativos, o que fez com que o trânsito, apesar de intenso, estivesse menos caótico do que muitos motoristas esperavam. A previsão é que os paulistanos continuem encarando trânsito acima da média.

Afunilamento no início do bloqueio da pista expressa da marginal Pinheiros próximo à ponte Eusébio Matoso
Afunilamento no início do bloqueio da pista expressa da marginal Pinheiros próximo à ponte Eusébio Matoso - Marcelo Justo/Folhapress

Ruas paralelas à marginal sofreram impactos no trânsito, como as avenidas Fonseca Rodrigues, com tráfego carregado no fim da manhã, mas sem lentidão, e a Gastão Vidigal, em frente à Ceagesp, que recebia o fluxo de caminhões do entreposto comercial.

A reportagem percorreu no começo da manhã toda a marginal Pinheiros no sentido Castello Branco, a partir da ponte do Socorro, em Santo Amaro, até a chegada à marginal Tietê, em 1h10 —o mesmo percurso na tarde de terça (20), durante o feriado, tomava 28 minutos do tempo dos motoristas.

 

FIQUE ATENTO!

Interdição: parte da pista expressa da Pinheiros

Pistas liberadas: toda a pista local da marginal Pinheiros e trechos da expressa

Rodízio suspenso: no sentido Castello Branco, entre a av. dos Bandeirantes e a ponte dos Remédios

Rotas alternativas: av. Faria Lima, Pedroso de Morais, Prof. Fonseca Rodrigues e Doutor Gastão Vidigal

Trens da CPTM: circulação normalizada na linha 9-esmeralda

Causas da ruptura: ainda desconhecidas

Fim das obras: ainda sem nenhum prazo


 

A sinalização de que há bloqueio na pista expressa da marginal começava a aparecer logo após a ponte Transamérica, com faixas e painéis eletrônicos, mesma altura onde começava a lentidão do trânsito nesta manhã.

A predominância do aplicativo Waze nos celulares dos motoristas fez com que muitos veículos enchessem as vias paralelas para fugir do tráfego intenso na marginal. Na altura da Bandeirantes, por exemplo, o trânsito estava completamente parado. Bom para ambulantes e para quem distribuía jornais e folhetos no semáforo, agasalhados para se proteger dos 18°C dos termômetros.

Dois trechos da pista expressa estavam liberados. O primeiro, a partir da saída da ponte João Dias. O trânsito nas faixas expressa fluía, ao contrário dos que estavam na pista local, engarrafada. Mas a situação se invertia sob a ponte Estaiada, onde a pista expressa era bloqueada de novo: o efeito funil que a prefeitura tentava evitar, quando motoristas em muitas faixas têm apenas uma saída estreita, o que para o trânsito, acontecia na passagem da via expressa para a local.

Logo após a ponte, a expressa volta a ser liberada, mas há outro afunilamento próximo à estação da CPTM Hebraica-Rebouças, quando a faixa é de novo impedida, e todo o fluxo da expressa vai para a local —dando a impressão de que era melhor ter permanecido ali mesmo desde o começo.

Pouco antes do viaduto que se rompeu, painéis eletrônicos sugerem alternativas aos motoristas que vão em direção à marginal Tietê. Pela manhã, funcionou. Na altura do incidente, o trânsito fluía bem, com exceção de uma pequena lentidão causada pelos motoristas que reduziam a velocidade para observar a estrutura colapsada. 

O motociclista Társio dos Santos foi da zona sul à Lapa no começo da manhã e pegou um desvio na altura da praça Panamericana, como orientava um painel da CET —normalmente, ele faz o trajeto pela marginal. "Quando eu vi, tudo parado, me atrasei todo", conta.

Na opinião de funcionários de um posto de gasolina próximo à ponte do Jaguaré, o resultado foi positivo durante a manhã.

A situação é pior para quem, assim como o motociclista Társio, depende do bom fluxo para trabalhar. É o caso de Arquileu Magalhães, 64, 15 deles como taxista, que esperava passageiros em frente a um prédio comercial na zona sul, na marginal. "Atrapalha muito. Com o táxi eu posso pegar o corredor de ônibus, pela Berrini eu vou embora. Mas tem via que não tem essa opção."

Seu colega Gilvan Gomes, 52, explica que o cenário piora nas áreas mais empresariais, como nas proximidades da Berrini ou da Faria Lima. "Já é ruim só com carros, mas aqui também tem os fretados das empresas, aí já viu."

A avaliação dos motoristas com quem a Folha conversou, no entanto, é que, apesar do tráfego intenso, a expectativa era de que o cenário fosse pior.

INTERVENÇÕES

Até agora, foram feitas 4 das 10 intervenções previstas para aumentar as ligações entre a marginal expressa e a local e evitar o efeito de afunilamento. Isso permitiu liberar 10 km dos 15 km bloqueados na marginal Pinheiros. 

A gestão Bruno Covas (PSDB) também pretende se reunir nesta quarta com os aplicativos de transporte compartilhados para pedir uma tarifa menor durante o período de bloqueio para obras de recuperação do viaduto que cedeu 2 metros na última quinta-feira (15). 

Covas afirma ainda não saber exatamente o que será feito e qual prazo de término das obras de recuperação do viaduto. A prefeitura não tem o projeto original da estrutura do viaduto, projetado e construído na década de 1970. Mas, segundo Covas, um dos engenheiros responsáveis pela obra, Roberto de Abreu, foi encontrado nesta terça-feira (20), em Guarujá (SP). O que será feito e qual prazo para o término da obra, no entanto, ainda não foi definido pela gestão.

O prefeito também disse que se reunirá nesta quarta com o Tribunal de Contas do Município para saber se é possível contratar emergencialmente empresas para fazer um laudo da estrutura das 185 pontes e viadutos da cidade. 

Segundo Covas, há verba no caixa municipal para o estudo, mas ele cogita ajuda estadual e federal. “Se ficar um valor exorbitante, vamos buscar colaboração com o governo federal. Nós estamos falando da principal rota, da principal cidade, onde passa grande parte do PIB brasileiro. Tenho certeza que o governador Márcio França (PSB) e o presidente Michel Temer (MDB) não vão negar apoio a cidade de São Paulo”, afirmou.

COLAPSO

viaduto que cedeu na marginal Pinheiros passa sobre os trilhos da linha 9-esmeralda da CPTM. O local é rota de acesso à rodovia Castello Branco e próximo ao shopping e ao parque Villa Lobos, a 500 m da ponte do Jaguaré.

As causas da ruptura, que criou um "degrau” de cerca de dois metros na pista, seguem desconhecidas e, como há risco de colapso da estrutura, a prefeitura tem pressa para içá-la. 

Por causa da queda do viaduto, a prefeitura decidiu interditar diferentes pontos da pista expressa da marginal Pinheiros, no sentido Castello Branco, entre as pontes Transamérica e do Jaguaré, sob argumento de que a interdição de um trecho curto provocaria afunilamento.

O rodízio de veículos também foi suspenso por tempo indeterminado no trecho da marginal Pinheiros, sentido Castello Branco, entre a av. dos Bandeirantes e a ponte dos Remédios. A marginal Pinheiros é a segunda via mais movimentada de São Paulo, atrás apenas da Tietê, e liga a cidade a diferentes rodovias e avenidas.

Em apenas uma hora, no pico de tráfego, 13 mil veículos passam pelas oito faixas da marginal, incluindo a pista local. Cinco dessas faixas estão agora interditadas. Em um dia comum, trafegam 450 mil veículos nos dois sentidos da marginal Pinheiros. As áreas mais atingidas dentro dos bairros são as vias da zona oeste, entre a marginal Pinheiros e o centro.

 
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