Doria esquece promessa a policiais e coloca general na Segurança Pública de SP

General da reserva João Camilo Pires de Campos assumirá a pasta a partir de janeiro de 2019

Artur Rodrigues
São Paulo

O governador eleito João Doria (PSDB) anunciou nesta terça-feira (13) o general da reserva João Camilo Pires de Campos para comandar a Secretaria da Segurança Pública do estado de São Paulo. A indicação foi antecipada pela Folha na semana passada.

Campos, 64, foi um dos responsáveis pela área de segurança do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República e passou para a reserva após 48 anos de serviços no Exército.

Essa será a primeira vez que um nome do Exército comanda a Secretaria da Segurança Pública em São Paulo desde 1979, quando Erasmo Dias foi titular da pasta. 

Novo secretário de segurança, João Camilo Pires de Campos, em evento no Palácio dos Bandeirantes em 2017
Novo secretário de segurança, João Camilo Pires de Campos, em evento no Palácio dos Bandeirantes em 2017 - Ze Carlos Barretta/Folhapress

Como general, campos chefiou o Departamento de Educação e Cultura do Exército e o Comando Militar do Sudeste.

Ao anunciar o general, o tucano descumpre promessa de campanha de colocar um policial à frente da pasta. "Nós melhoramos, evoluímos nossa ideia e melhoramos ao ter um general à frente da Secretaria da Segurança Pública do estado de São Paulo", disse o tucano nesta terça. "Nós teremos um secretário executivo da Polícia Militar e uma secretaria executiva com um policial civil."

Doria foi aconselhado por auxiliares a recuar dessa promessa, sob o risco de começar o novo governo tendo de administrar um mal-estar entre as polícias. Se escolhesse um policial civil, irritaria os policiais militares. Se escolhesse um policial militar, traria desconforto para os policiais civis.

Em entrevista nesta terça-feira, o governador eleito adotou um discurso mais moderado do que em sua campanha, quando disse que a polícia iria atirar para matar. "Óbvio que a primeira ação da polícia não será matar, será na inteligência, depois na pronta resposta que é imobilizar o criminoso, se o criminoso reagir a ação será para imobilização", disse. "A orientação é que se ele ainda assim reagir armado é que ele vá deitado para o cemitério." 

Questionado sobre o excludente de ilicitude para policiais em confrontos proposto pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), Doria afirmou que, entre a vida de cidadãos de bem, do policial e a do bandido, fica com as primeiras duas. 

O general Campos também respondeu sobre o tema, com um tom cauteloso. "É um tema que tem profunda relevância e merece ser estudado com muito carinho. Bandido tem no mundo todo, agora bandido armado de fuzil constituindo ameaça só aqui", afirmou.

Perguntado se sua gestão será linha-dura, ele afirmou que será "serena e segura". 

Ele evitou dar opiniões sobre temas espinhosos, como a possível transferência de chefes da facção criminosa PCC para presídios federais, diante de ameaça de fuga. "Com relação à pergunta sobre o PCC, confesso que preciso aprofundar com o secretário atual para que tenhamos assim uma noção do quadro verdadeiro, claro, para que possamos levar para o nosso governador."

Ele também não deu detalhes do plano de combate a roubo de cargas no estado. Afirmou apenas que será tratado com o "devido respeito e convenientemente". Sobre a letalidade de policiais paulistas, afirmou que ninguém "mata por matar" e que o assunto será tratado caso a caso.

O militar foi na contramão de outros políticos, que têm manifestado a opinião de que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é criminoso. "O próprio movimento, em si, se permanecer em condições normais de temperatura e pressão, não é um problema de segurança pública. Quando ele ultrapassa a barreira da ordem e da disciplina, passa a ser." 

Outros nomes

Nesta terça-feira, Doria anunciou outros nomes para o primeiro escalão de seu governo. Marcos Penido, que deixou a pasta das Subprefeituras da gestão Bruno Covas (PSDB) na cidade de São Paulo, assume a 'supersecretaria' de Energia, Saneamento, Recursos Hídricos e Meio Ambiente. 

​Julio Serson, ex-secretário das Relações Internacionais no município, assumirá uma secretaria especial na mesma área no estado e também será presidente da companhia Investe SP. 

Wilson Pedroso, braço-direito de Doria e ex-chefe de gabinete na prefeitura, será chefe de gabinete de Doria no governo do estado. Pedroso foi aplaudido por militantes tucanos que estavam no evento. 

Nos últimos dias, Doria já havia anunciado outros nomes. Nesta segunda-feira (12), por exemplo, anunciou que o desembargador Paulo Dimas Mascaretti, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, será o secretário de Justiça de sua administração. 

Anunciou ainda a deputada estadual Celia Leão (PSDB) como secretária da Pessoa com Deficiência. Ela é a primeira tucana anunciada por Doria como membro de seu secretariado. O distanciamento de Doria em relação ao partido vinha sendo criticado por membros do PSDB.

Antes, Doria já havia confirmado três atuais ministros do governo Michel Temer (MDB) para o seu secretariado: Gilberto Kassab (Casa Civil), Rossieli Soares (Educação) e Sérgio Sá Leitão (Cultura). Na campanha eleitoral, Doria usou a gestão Temer para atacar adversários. Em debates e programas de rádio e TV, buscou desgastar seu adversário Paulo Skaf (MDB) ao associá-lo ao presidente da República.

Kassab, ex-prefeito da capital paulista e atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, tornou-se réu em setembro deste ano devido a ação do Ministério Público de São Paulo que o acusa de ter recebido via caixa dois o valor de R$ 21 milhões durante campanha para prefeito em 2008. Doria e Kassab disseram que as acusações não influenciarão em nada no mandato. ​   

Doria também decidiu que a Secretaria de Governo será extinta e suas funções serão assumidas pelo vice-governador eleito Rodrigo Garcia (DEM).

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