Num dos últimos congressos em que foi palestrante, o médico psicanalista Carlos Augusto Nicéas encerrou sua fala e continuou no palco. Surpreendendo a plateia, fez um dueto com um amigo para cantar a música francesa "Ne me quitte pas".
Nicéas, que adorava cantar e dançar, prezava sua liberdade e dizia fazer o que tinha vontade. "Ele era muito antenado e sabia quais eram os hits do momento, do clássico ao popular", diz a sobrinha Ana.
Carismático e muito comunicativo, conseguia dialogar com pessoas de todas as idades.
Crítico da ditadura militar, o médico acabou exilado na França na década de 1960, mas aproveitou o tempo no exterior para fazer uma especialização em psicanálise. Este seria o início da trajetória de estudo e dedicação à área. De volta ao Brasil, ajudou a criar a Escola Brasileira de Psicanálise.
Carlos Augusto nasceu em Rio Formoso (PE) e engajou-se cedo no movimento estudantil, época em que promovia cursos de alfabetização com Paulo Freire em bairros carentes do Recife.
No campo da psicanálise trabalhou muito pela escola e pela manutenção da escuta clínica. Além de atuar como docente, sempre clinicou. Também escreveu o livro "Amor de Si", onde fez uma análise sobre o narcisismo.
Viajar era uma das coisas que o médico mais apreciava, mas precisou reduzir as andanças pelo mundo depois que descobriu ser diabético.
"Ele fez tudo o que queria. Escreveu um livro, trabalhou muito, cumpriu seu papel com uma generosidade incrível e amabilidade. Militou pelas causas que acreditou e deixou um legado na psicanálise", afirma Ana.
Nicéas morreu por complicações de uma hemorragia no dia 23 de outubro, aos 72 anos. Ele deixa três sobrinhos e dois sobrinhos-netos.
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