Descrição de chapéu Obituário Pedro Carlos Rovai (1938 - 2018)

Mortes: Cineasta inquieto, tinha roteiros como inspiração para a vida

Diretor de 'Tainá - Uma Aventura na Amazônia', ajudou a difundir a pornochanchada nos anos 1970

Ricardo Hiar
São Paulo

O avô de Pedro Carlos Rovai tinha o hábito de comprar bilhetes para o cinema e levar o neto, ainda criança, para assistir todos os dias com ele. Mal sabia que o garoto, que por diversas vezes dormiu em seu colo durante o filme, levaria reflexos dessas sessões por toda a vida.

Rovai pensava em cinema a todo momento. Quando via algo inusitado, ou até mesmo só de ler uma notícia ou observar alguém caminhando pela rua, já pensava um roteiro novo. "Ele vivia de verdade para o cinema, pensava em novos projetos de segunda a segunda. Tinha uma mente muito criativa", diz a amiga Marcela.

Foi com a pornochanchada —​estilo que ajudou a difundir no Brasil na década de 1970— que ele ganhou notoriedade na carreira. Com "Ainda Agarro essa Vizinha" e "A Viúva Virgem", que produziu com Adriana Prieto, bateu recordes e atraiu milhares de pessoas.

Ele gostava de fazer trabalhos para grandes públicos. Seu objetivo, no entanto, não era o lucro gerado, mas sim a satisfação do espectador. 

Como alguém que consumia muito o cinema —assistia dos populares a filmes densos de arte—, tinha facilidade em desenvolver trabalhos com estilos diferentes e para públicos muito distintos. Esse foi o caso da personagem infantil, a índia Tainá, da qual tinha muito orgulho. Com a Amazônia de pano de fundo, a história virou trilogia, foi premiada e chegou a 40 países.

"Ele era um ser pautado pela dúvida, que potencializava sua criatividade. Todos os caminhos eram possíveis", diz a mulher, Kika. Para ela, com Tainá, Pedro homenageou as crianças brasileiras e a criança que mantinha em si.

Mesmo hospitalizado, na noite do dia 31 de outubro ele pediu a Kika que prestasse atenção no filme que assistiam, Forrest Gump, principalmente na cena final, que ele achava linda. 

Foi o último filme visto pelo casal. Pedro lutava contra um câncer e morreu dormindo, aos 80 aos, com a TV ligada e o controle remoto na mão. Ele deixa a mulher e uma filha.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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