Descrição de chapéu Obituário Aldyr Garcia Schlee (1934 - 2018)

Mortes: Contador de histórias da fronteira, viveu mil vidas no tempo de uma

Jornalista, desenhista, professor ficou conhecido por criar camisa da seleção

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São Paulo

​Para acertar uma dívida de guerra, Brasil e Uruguai construíram uma ponte de dois quilômetros, ligando Jaguarão (a 350 km de Porto Alegre) a Rio Branco (no Uruguai). Nessa fronteira, nasceu Aldyr Garcia Schlee, que ia passar a vida a mostrar que a divisa era imaginária. 

Criança, Schlee ligava o rádio para acompanhar o futebol no rio da Prata e assistia ao tio, goleiro do Cruzeiro do Sul, em campo. Cresceu assim, conhecendo gente e lugares, em português e espanhol, que habitariam seus 14 livros de contos. 

Aos 15 anos, foi para Pelotas, para estudar. Logo, virou desenhista em um jornal. Foi assim que venceu o concurso que deu à seleção brasileira a camisa verde e amarela e a ele uma cadeira no Maracanã, um pouco de dinheiro e um estágio no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. 

Aldyr dizia que a história fora acidente. Nos últimos anos, havia rompido com a criação. E sua vida foi, de fato, maior. Se o autor regionalista gaúcho Simões Lopes Neto escrevesse sobre ele, renderia um tomo. Um dos capítulos falaria do jornalista que ganhou o Prêmio Esso por uma reportagem sobre o xisto betuminoso. 

Outro contaria sobre as vezes em que foi detido pela ditadura, sobre como foi impedido de defender a tese na Universidade Federal de Pelotas, como fugiu algumas vezes com a família para o Uruguai e virou amigo de um Tupamaro chamado Lucho. 

Schlee ainda foi professor de direito, ganhou grandes prêmios literários e foi um dos precursores do futebol de botão no Brasil. 

Antes de tudo, numa tarde no campo de futebol do Pelotas, se apaixonou. O casamento com Marlene durou 58 anos. Nos 22 meses sem ela, se dedicou a terminar um dicionário da fronteira para preencher o vazio. 

“Nossa casa sempre teve livros. A gente ouvia Drummond, Bandeira, Cecília Meireles, na eletrola”, lembra o filho Andrey.  “O pai era um cara fantástico. Era aberto, tinha um trato de irmão, de companheirismo”, conta o mais velho, Aldyr. 

No dia 15, seis anos depois de receber o diagnóstico de câncer de pele, Schlee morreu em Pelotas. No dia seguinte, Brasil e Uruguai o homenagearam em campo. Schlee teria torcido pela celeste. 


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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