Na apuração do Carnaval de 1997, Viradouro e Mocidade disputavam décimo a décimo o título. As duas eram as escolas do coração de Jorge Oliveira. Uma o havia acolhido. A outra foi fundada por seu pai, seu Orozimbo.
Poucos dias antes, com a escola de Niterói, Jorjão tinha levado à Sapucaí uma das maiores inovações já vistas no Carnaval do Rio de Janeiro: a paradinha funk.
Antes de entrar na avenida, ele havia sido proibido de levar a ideia adiante. Sua mulher, Regilane, olhou para o mestre de bateria: "E agora?". Jorjão, retrucou: "Vou fazer".
A ousadia rítmica foi a única nota nove da escola e quase custou o primeiro e único título da Viradouro no Grupo Especial. Mas virou também um dos momentos mais icônicos dos desfiles cariocas. A tarde de contagem de votos foi o dia mais feliz da vida de Jorjão.
A teimosia era uma de suas marcas, assim como o talento. Nascido no Rio, cresceu na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel. Aprendeu a conduzir a bateria com Mestre André e se tornou mestre de muitos outros que vieram depois, como Dudu, titular atual: "Ele deixou uma história na Mocidade e eu tento manter a tradição".
Depois de idas e vindas, Jorjão voltou a entrar com a escola na avenida em 2017 para ganhar mais um campeonato. E voltava a ser mestre de janeiro a janeiro —enquanto a saúde aguentou, seguiu viajando com a Bateria BM10 da Velha Guarda. "O Carnaval foi a vida dele", conta o amigo Zé Bolinho.
No último dia 27, complicações de um AVC levaram Jorjão. O velório virou show da bateria na Quadra da Mocidade. Deixa Regilane, de quem nunca ficou longe apesar da separação, e o filho Jorge. "Sou grata a ele eternamente, porque ele foi um homem muito bom", diz ela.
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