Descrição de chapéu Obituário Raimunda Gomes da Silva (1940 - 2018)

Mortes: Dona Raimunda Quebradeira de Coco, liderança feminina do TO

Por sua luta, foi uma das 1.000 mulheres do mundo indicadas coletivamente ao Nobel da Paz

Paulo Gomes
São Paulo

Após anos de maus tratos, Raimunda foi abandonada pelo marido com seis filhos para criar, no interior do Maranhão. Decidiu então levar as crianças para São Miguel do Tocantins, ao sul.

A vida na nova terra teria que ser construída desde o começo. Foi então morar junto do pessoal que estava acampado na terra dos fazendeiros. Dormia em barraquinho de palha. De lona. Quebrava coco como modo de subsistência e fazia trabalho de leitura bíblica para a comunidade.

Ganhou confiança, começou a enxergar o modo de organização coletiva e, quando se viu, ela já era uma força motriz. "Eu costumava ver o sofrimento das mulheres pobres e iletradas: solteiras e casadas, seus filhos e filhas, crianças abandonadas pelo pai", disse certa vez. No assentamento Sete Barracas, deu início ao sindicato da região que representa a luta das mulheres extrativistas do coco babaçu.

Em 1991, foi uma das fundadoras do movimento interestadual das quebradeiras. Foi ainda a responsável pela Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

Em 2005, foi uma das 1.000 mulheres do mundo indicadas coletivamente ao Nobel da Paz.

Faladeira e alegre, não deixava as dificuldades se transformarem em empecilhos —estava sempre transmitindo força.

Há dois meses, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que atua nos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins, perdeu uma de suas fundadoras no Maranhão, Dona Dijé. Fundadora no Tocantins, Dona Raimunda morreu na quarta (7), aos 78.

Diferentemente do que possa parecer, a morte da liderança não enfraquece o movimento. "Ela ensinou a gente a lutar. Hoje tem várias pessoas assentadas, mulheres capacitadas, que se conscientizam, participam de reuniões, aprendem a se articular", diz a amiga Luzanira, uma dessas mulheres. São muitas as donas Raimundas que ficam. Deixa ainda o companheiro Antonio Cipriano, cinco filhos, netos e bisnetos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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