Uma das memórias de infância mais fortes da jornalista Fabiana Lucena é da hora da saída da escola em Caxias do Sul. Junto com os irmãos, ela corria algumas quadras e logo estava parada na janela do estúdio para ver o pai, Luiz Carlos de Lucena, na bancada do jornal do meio-dia da TV local.
Lucena foi uma referência no jornalismo da Serra Gaúcha. Em 1972, ajudou a recepcionar os artistas da Rede Globo, como Francisco Cuoco e Tônia Carrero, que chegavam à Festa da Uva. O evento do dia 19 de fevereiro, um dia depois do seu aniversário, foi a primeira transmissão em cores da TV brasileira. "Ele ficou conhecido na cidade toda", lembra a filha.
O jornalismo foi uma descoberta ao acaso. Por gostar de conversar com todos e ter a voz grave, aos 17 já estava trabalhando nas rádios de Caxias. Parou para servir ao Exército, mas voltou aos microfones em seguida. Quando cansou e foi trabalhar numa empresa de transporte coletivo, andava de ônibus para sentir como era.
Em 2001, sem aviso prévio, publicou seu primeiro livro de causos, "Do meu jeito". Até 2015, vieram outros quatro: "Do meu tempo", "No aconchego dos meus pelegos", "Onde amarrei meu peixe" e "Apaguei a luz do vagalume". Todos contando histórias tradicionalistas do Rio Grande do Sul.
Era assim que se ligava às origens, no distrito de Cazuza Ferreira, parte de São Francisco de Paula. Embora tenha vivido pouco no lugar, sempre falava dele. Há três anos, colocou os quatro filhos e seis netos em uma excursão para conhecerem de onde a família saiu.
Em 26 de outubro, após duas cirurgias em menos de 24 horas por um problema na coluna, Lucena se foi. Deixou Mari, companheira com quem dividiu taças de vinho, viagens, bailes e boa comida por 20 anos, os filhos, netos e muitos amigos. "Foi um pai amoroso, sempre gostou da família e foi minha inspiração", conta a filha.
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