Descrição de chapéu Obituário RYAN SIQUEIRA (2003 - 2018)

Mortes: Futuro da zaga do Botafogo, estrela brilhou forte e fugaz

Perto de Ryan, que decidiu aos 11 ser jogador, tudo virava futebol

Fernanda Canofre
São Paulo

Uma bola voando pela comunidade da Palmeira Fonseca, em Niterói, significava que era grande a chance de que Ryan estivesse por ali. O mesmo se houvesse uma garrafa rolando na rua. Perto do garoto, tudo virava futebol.

Filho de um zagueiro de fim de semana, tinha lugar cativo na defesa nas partidas no campinho todos os dias após a escola e aos sábados.

Quando completou 11 anos, avisou ao avô, Ruimar, o "seu Lucas", que tinha tomado uma decisão: ia ser jogador de futebol e melhorar a vida de todo mundo ali. Começou treinando no Praia Clube, e com cabeça de gente grande. Acordava cedo, dormia bem, rejeitava convites de festinhas para se concentrar.

 
 

Nos primeiros testes em clubes grandes, o avô mal despertava, a rua ainda às escuras, e Ryan já estava pronto para a peneira. Seu Lucas conta que nunca viu o neto nervoso: entrava em campo repassando as dicas do treinador e confiante. Logo que virou atleta do Botafogo, pegou o telefone para contar aos pais.

Pouco depois, no primeiro jogo que acompanharam, Ryan marcou de cabeça.

Foi num treino do alvinegro que, um dia, sentiu dores na barriga. Nos exames, ouviu que tinha um tumor.

Durante um ano, os maiores ídolos dele viram de perto o menino encarar uma briga de gigante. Igor Rabello, quem Ryan esperava ser quando crescesse, virou amigo. Um guardava a foto do outro, e os dois se chamavam de General.

"Nesse tempo em que tive a oportunidade de estar perto dele, criamos um vínculo natural onde aprendi inúmeras coisas. Ele falava que era meu fã, mas na verdade eu é que vou ser um eterno fã dele", diz Rabello.

Tite, Jair Ventura, Philippe Coutinho e Joel Carli foram alguns dos que mandaram mensagens torcendo pelo zagueirinho. Para a mãe, dizia: "Um dia vou estar lá com eles". Para a assistente social do clube, Maristela, disse ao pisar num estádio: "Eu amo a vida".

Em 26 de outubro, após uma madrugada em claro com o pai, Fabiano, poucos segundos depois de dar um abraço na mãe, Priscila, Ryan, 15, fechou os olhos de vez. Para Miguel, 6, de quem cuidou a vida toda, o irmão virou estrela. Igual aquela da camisa do Botafogo.


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