Sempre que entrava em seu set, o ajudante de pedreiro Manoel Loreno se transformava. O baixinho de origem humilde e muitas vezes tímido dava espaço para heróis do velho oeste.
Apaixonado por cinema, seu Manoelzinho —como era conhecido em Mantenópolis, no Espírito Santo— passou a criar seus filmes tendo como inspiração antigas produções americanas. O município, para o qual migrou com a família mineira ainda na infância, se tornaria o seu velho oeste.
Com poucos recursos, tinha como trunfo a criatividade, que resultou em mais de 20 filmes. Os amigos viravam atores e figurantes, e ele não abria mão de ser o protagonista. A maioria das gravações foi feita em VHS, cheias de improviso. Para a música de fundo, alguém ligava o rádio durante as cenas. Os cortes eram secos, e as produções não demoravam mais do que dois dias.
O gosto surgiu tempos antes: na infância, sem dinheiro para ir ao cinema, entregava cartazes em troca de bilhetes.
Analfabeto, o cineasta amador tinha um ritual. Gostava de ir só ao alto de uma montanha e, debaixo de uma árvore, projetava tudo em desenhos no chão. Ali decorava as sequências. Chegou a ser atropelado por um carro nas gravações, mas repetiu a cena até ficar como esperava.
O primeiro filme, "A Vingança de Loreno", saiu em 1989. O último, "Um Manoelzinho é Bom, Dois é Demais", é de 2011. A praça principal da cidade lotou para a exibição.
"Ele ficava muito feliz quando viam seus filmes. O mais importante para ele era ver o sorriso das pessoas quando o assistiam", diz o filho, Zaqueu.
Morreu no dia 10, após um AVC. Deixa a mulher, Iza, companheira por mais de 20 anos, e os filhos Zaqueu e Elisa.
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