Descrição de chapéu Obituário Paulo José Dorneles Pires (1934 - 2018)

Mortes: Virtuoso, aprendeu a tirar música com serrote só de ouvir

Desde criança, Paulinho Pires nunca deixou de tocar e fazer música

Paulinho Pires
O músico gaúcho Paulinho Pires com seu serrote - Arquivo pessoal
Fernanda Canofre
São Paulo

Em uma composição antiga, o gaúcho Paulo José Dorneles Pires, o “Paulinho”, diz que só desejava, quando chegasse seu dia, uma cuia de mate bem cevada correndo em uma roda entre os amigos que ficaram.

O chimarrão marcava o começo de todos os dias. Ele varria o pátio da casa onde morou por 60 anos, tomava um mate, sentado em um banco perto do galpão, arrumava tempo de plantar alguma coisa. Como o pé de figueira que cresce em frente à casa desde que as filhas eram pequenas.

Paulinho nasceu na antiga Ilha do Cônsul, uma das várias de Porto Alegre, que recebeu o nome por ter pertencido a um cônsul da Noruega. O pai era dono de um cartório que atraía gente de outros cantos para o local. Aos 5 anos, quando a família ia para bailes, Paulinho já puxava uma gaita de boca para tocar.

Sem ter tido professor, ele tirava o som dos instrumentos aprendendo só pelo ouvido. Foi assim quando viu alguém tocando um serrote pela primeira vez, quando tinha cerca de 10 anos. No outro dia, enquanto brincava com um amigo pela ilha, assim que encontrou um serrote em uma construção, puxou a ferramenta e começou a mexer nela até fazer música. 

E o serrote nunca mais deixou o repertório. Aos 20, foi morar na capital gaúcha e se juntou ao grupo Estância da Amizade. Paulinho passava os dias trabalhando como auxiliar de escritório e as noites tocando em restaurantes e bares noturnos. Violão e serrote, agora, acompanhado de um arco de violino, mais profissional.

Quando voltava para casa, de madrugada, sempre passava no quarto das três filhas para dar um beijo na testa e ver se elas estavam bem cobertas. “Meu pai foi um homem muito trabalhador, correto, muito amável e carinhoso com quem quer que fosse. Todo mundo tinha muito carinho e se sentia bem perto dele”, conta a filha Adriana, que adorava ver a cara de surpresa das pessoas quando o pai tocava.

Há seis anos, Paulinho perdeu Irma, com quem foi casado por 49 anos. No dia 30 de outubro, “foi-se para a querência eterna”, como dizia. Uma septicemia (infecção generalizada) o levou aos 84 anos. Deixou as três filhas - Adriana, Luciana e Fabiana - 5 netos e duas bisnetas. Além de uma gaveta de músicas inéditas.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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