Não há prazo para reabrir marginal, e prefeitura usará tempo ocioso para recapeá-la

Viaduto cedeu na marginal Pinheiros, em SP, e prefeitura bloqueou trechos da pista expressa

O prefeito Bruno Covas (PSDB) vistoria estrutura que cedeu na quinta 15, em SP
O prefeito Bruno Covas (PSDB) vistoria estrutura que cedeu na quinta 15, em SP - Mariana Zylberkan/Folhapress
Mariana Zylberkan
São Paulo

A Prefeitura de São Paulo não tem nenhuma estimativa de prazo para finalizar a obra do viaduto que cedeu na semana passada na marginal Pinheiros e também desconhece o tipo de técnica de engenharia a ser utilizada no local. Diante disso, decidiu recapear a pista expressa, enquanto essa permanecer interditada para o tráfego de veículos.

O viaduto que cedeu passa sobre os trilhos da linha 9-esmeralda da CPTM e é rota de acesso à rodovia Castello Branco, próximo ao shopping e ao parque Villa Lobos, a 500 m da ponte do Jaguaré. A ruptura criou um "degrau” de cerca de dois metros na pista, e as causas seguem desconhecidas.

Um agravante para essa indefinição sobre a técnica a ser utilizada no local é o desaparecimento do projeto original do viaduto, erguido na década de 1970 a partir de um convênio entre o município e a antiga Fepasa (companhia de trens). A prefeitura pediu ajuda ao governo paulista para tentar encontrá-lo.

“Estamos na fase de escoramento, depois vêm as estacas e só depois o processo de macaqueamento. Só daí vamos poder ter uma ideia de qual vai ser a engenharia necessária e qual vai ser o prazo necessário para finalizar a obra”, disse o prefeito Bruno Covas (PSDB), ao visitar o local nesta segunda-feira.

A prefeitura pretende construir dez estacas de ferro na base de sustentação do viaduto. A medida é necessária para criar um pilar de sustentação secundário na estrutura para que possa ser içada com a ajuda de macacos hidráulicos. O método, como se referiu o prefeito, é chamado de macaqueamento. 

Viaduto que cedeu no último dia 15 em São Paulo
Prefeitura de São Paulo tenta escorar estrutura de viaduto que cedeu no último dia 15 - Mariana Zylberkan/Folhapress

Fique atento

Interdição: parte da pista expressa da Pinheiros

Pistas liberadas: toda a pista local da marginal Pinheiros e trechos da expressa

Rodízio suspenso: no sentido Castello Branco, entre a av. dos Bandeirantes e a ponte dos Remédios

Rotas alternativas: av. Faria Lima, Pedroso de Morais, Prof. Fonseca Rodrigues e Doutor Gastão Vidigal

Trens da CPTM: circulação normalizada na linha 9-esmeralda

Causas da ruptura: ainda desconhecidas

Fim das obras: ainda sem nenhum prazo

Por causa da queda do viaduto, a prefeitura inicialmente interditou cerca de 16 km da pista expressa da marginal, no sentido Castello Branco, sob argumento de que um trecho curto provocaria afunilamento de veículos. O trecho bloqueado da expressa agora foi reduzido para cerca de 6 km.​

A expectativa é de altos índices de congestionamento nas vias próximas ao viaduto a partir desta quarta-feira (21), quando os paulistanos voltam ao trabalho e às aulas após um período de seis dias de feriado prolongado. O rodízio de veículos está suspenso por tempo indeterminado no trecho da marginal, sentido Castello Branco, entre a avenida dos Bandeirantes e a ponte dos Remédios.

A marginal Pinheiros é a segunda via mais movimentada de São Paulo, atrás apenas da Tietê, e liga a cidade a diferentes rodovias e avenidas. Em apenas uma hora, no pico de tráfego, 13 mil veículos passam pelas oito faixas da marginal, incluindo a pista local. Cinco dessas faixas estão agora interditadas. Em um dia comum, trafegam 450 mil veículos nos dois sentidos da marginal Pinheiros.

As áreas mais atingidas dentro dos bairros são as vias da zona oeste, entre a marginal Pinheiros e o centro. Um esquema especial orienta o trânsito nos eixos das avenidas Faria Lima, Pedroso de Morais, Professor Fonseca Rodrigues e a Doutor Gastão Vidigal. Essas avenidas servem de alternativas à interdição da pista expressa na marginal —na Pinheiros, somente a via local segue liberada para veículos.

A prefeitura também orienta que os motoristas oriundos das rodovias Anchieta, Imigrantes e Régis Bittencourt peguem o Rodoanel e a rodovia Castello Branco até alcançar a marginal Tietê. Outras opções para quem sai do litoral são as avenidas do Estado e Salim Farah Maluf.

De acordo com o secretário municipal de Obras, Vitor Aly, a dificuldade em encontrar as informações da construção da estrutura impõe mais trabalho nessa fase da reconstrução. “O projeto abrevia o trabalho. A engenharia vai nos permitir ter acesso a detalhes da estrutura. Sem isso, vamos ter que reconstruir o viaduto novamente e, a partir disso, ver que tipo de problema afetou a estrutura “, disse o secretário.

O secretário também informou que está em contato com a secretaria estadual de Transportes para encontrar os documentos. “O secretário me pediu até quarta-feira para encontrar o projeto já que é feriado prolongado em São Paulo.”

Procurada a respeito do projeto do viaduto, a CPTM informou que não herdou o viário da Fepasa, apenas o sistema férreo, por isso não pode comentar.

Para obter mais informações sobre a estrutura do viaduto, a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) buscou a viúva do engenheiro Walter de Almeida Braga (1930-2016), que projetou a estrutura. A viúva, porém, disse que se desfez do acervo do engenheiro. Engenheiro especializado em estruturas, Braga participou de projetos importantes da cidade, como o da ponte Júlio de Mesquita Neto, da linha 2-verde do metrô e de parte do Cebolão. 

Prioridade

Nesta segunda-feira, o prefeito informou que irá pedir autorização ao TCM (Tribunal de Contas do Município) para abrir um contrato emergencial para a realização de laudos de engenharia para fazer a manutenção de 185 pontes em viadutos da cidade. Essa avaliação das pontes e viadutos tem sido feita de forma visual pelos funcionários da secretaria de Obras, de acordo com o prefeito.

Covas afirmou ainda que a gestão tucana havia encomendado estudos de monitoramento em 33 pontes e viadutos que apresentavam problemas visíveis. Com o incidente na marginal, a medida será estendida a todas as estruturas viárias da capital. 

Neste ano, a gestão Bruno Covas (PSDB) gastou apenas 5,3% do valor previsto para recuperação e reforço de pontes e viadutos em São Paulo. A administração municipal reservou R$ 44,7 milhões para recuperação e reforço de viadutos e pontes no Orçamento deste ano. No entanto, a menos de um mês e meio do final do ano, gastou até agora apenas R$ 2,4 milhões.

A Prefeitura de São Paulo é alvo de cobranças há mais de uma década para reformar pontes e viadutosque requerem manutenção preventiva e reparos. A situação se arrasta por pelo menos quatro prefeitos  —Gilberto Kassab (PSD), de 2006 a 2012, Fernando Haddad (PT), de 2013 a 2016, João Doria (PSDB), de 2017 a abril de 2018, e Bruno Covas (PSDB)— sem que uma ampla ação efetiva tenha sido realizada.

Segundo o Ministério Público, a maioria das pontes e viadutos da cidade foram erguidos entre as décadas de 1960 e 1970 e, desde lá, não passaram por manutenção adequada nem receberam atenção de prevenção a contento. A falta de atenção rotineira às instalações também acabou por inflar os valores das obras.

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