PMs de SP são treinados para usar armas de guerra em ação contra o PCC

Metralhadoras foram cedidas pelo Exército para ajudar PM no interior

Rogério Pagnan
São Paulo

Em meio a ameaça de resgate de chefes do PCC, equipes da Rota, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, estão recebendo treinamento desde a semana passada para o uso de armamento de guerra em operação no interior do estado.

Dois tipos de armas são utilizadas nos treinos: metralhadoras calibre .50, que são capazes de derrubar aeronaves, e metralhadoras MAG 7.62, também de grande poder de destruição por funcionar em modo rajada de disparos.

Policiais militares de SP recebem treinamento do Exército para uso de metralhadoras calibre .50 - Reprodução

O treinamento da tropa está sendo ministrado por homens do Exército, por determinação do Comando Militar Sudeste, que também cedeu o armamento para ser empregado na operação em Presidente Venceslau, conforme solicitada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

Procurado pela Folha, o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, disse não poder dar detalhes da utilização do armamento por fazer parte de informações estratégicas de segurança.

As metralhadoras já estão sendo empregadas no interior paulista desde o final de semana. O número exato dessas armas também não foi informado pelo Exército e nem pela PM, mas estima-se que sejam cerca de dez.

O uso desse tipo de armamento é importante na operação realizada no interior porque, segundo o plano descoberto pelo governo, a facção criminosa teria contratado um grupo de mercenários internacionais para resgatar a cúpula presa em Presidente Venceslau. Para a ação estaria previsto o uso de dois helicópteros de guerra.

Embora descoberto, o plano ainda não teria sido abortado pelos criminosos.

O principal alvo do resgate seria Marco Camacho, o Marcola, apontado pela polícia e o Ministério Público como o número um da facção. No entanto, a quantidade de presos que poderiam ser resgatados é imprevisível.

A Penitenciária 2 de Venceslau, onde estão presos os integrantes da facção, tem capacidade para 1.280 detentos, mas, segundo dados da Secretaria da Administração Penitenciária, tem atualmente 804.

Tanto a metralhadora calibre .50 quanto a MAG calibre 7.62 são armas de uso restrito às Forças Armadas para utilização em guerras. A PM paulista não possui esse armamento e nem autorização para comprá-lo.

Os detalhes do plano estão em ofícios enviados ao Exército e à Aeronáutica pelo deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSL) na semana passada. Nos documentos, ele pedia ajuda para a PM paulista no enfrentamento ao suposto grupo de mercenários que estariam planejando o resgate de presos.

“As informações trazem que diversas forças paramilitares iranianas, nigerianas e membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) teriam sido contratadas para tal empreitada criminosa, o que foge das ações perpetradas por criminosos comuns”, diz o ofício enviado ao parlamentar.

As informações não foram desmentidas pelo governo paulista. 

"Os PMs já estão usando essas metralhadoras, mas o perigo só passará com a movimentação dos líderes criminosos", disse o parlamentar à Folha

GARANTIA DA SEGURANÇA

Na semana passada a Secretaria da Segurança Pública confirmou a solicitação de apoio às tropas da PM empregadas em Presidente Venceslau. “As medidas têm como objetivo garantir a segurança dos presos que estão em unidades prisionais, agentes públicos, assim como da população da região.”

“Salienta ainda que conta com o apoio e suporte logístico do Exército Brasileiro, sem envolvimento de efetivo. Por questões de estratégia e segurança mais detalhes não serão passados”, disse em nota.

No início do mês, ao ser procurado pela Folha, o governo paulista disse que as operações eram de rotina para treinamento de pessoal da região do estado.

O pedido de ajuda do governo paulista para combate ao PCC é incomum, ao contrário do que acontece no Rio de Janeiro. Nem mesmo em 2006, quando as forças de segurança paulistas foram atacadas pela facção, o governo paulista aceitou ajuda federal. Disse considerá-la desnecessária porque as polícias do estado seriam capazes de enfrentar o problema.

Agora, segundo o governador Márcio França (PSB), a ajuda é bem-vinda. "Sou a favor de toda e qualquer ajuda federal", disse à reportagem na semana passada. "O Exército Brasileiro tem como função subsidiária auxiliar os estados na segurança pública. Acho bom isso, sempre nos apoiam. Temos ótimo relacionamento."

AEROPORTO FECHADO

A possibilidade desse resgate de presos levou a Justiça de Presidente Venceslau a interditar, desde o início do mês passado, o aeroporto da cidade. "Há enorme preocupação com o aeroporto municipal, pois [fica] muito próximo ao estabelecimento prisional, permitindo logística para atuação de referida organização criminosa", diz despacho do juiz. “A medida se mostra absolutamente necessária, pois evitará problemática maior.”

A interdição, que deveria ter terminado no final do mês, foi prorrogada por mais 10 dias.

Outro exemplo da preocupação do governo paulista com o plano é a manutenção em Venceslau de um contingente de policiais militares que inclui grupos de elite como Rota e COE (operações especiais), além de veículo blindados capazes de resistir a tiros de fuzil.

O efetivo foi enviado ao oeste do estado quando setores de inteligência da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) detectaram as intenções dos criminosos. A informação foi repassada pelo secretário Lourival Gomes (Penitenciária) ao colega Mágino Alves Barbosa Filho (Segurança Pública), que determinou o envio das tropas —ainda sem prazo para deixar à região.

A secretaria também descobriu que os detentos planejam uma rebelião no presídio para que, ao mesmo tempo, criminosos do lado de fora tentem romper os muros da penitenciária.

Segundo informações encaminhadas pelo Major Olímpio ao Exército e à Aeronáutica, os criminosos também pretendem usar metralhadoras .50 para impedir os policiais de sair dos quartéis e os helicópteros da PM de levantarem voo, como já teria ocorrido em Araraquara e Bauru em outras ações criminosas.

Eles usariam explosivos para destruir as torres de vigilância dos presídios. Também queimariam veículos para impedir o acesso nesses locais, outra tática comum.

Em junho deste ano os setores de inteligência da PM e da SAP já tinham detectado um outro plano de resgate de integrantes do PCC na mesma unidade prisional —atribuído ao preso Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, um dos chefes da facção e também preso em Venceslau.

Naquele plano a ideia dos criminosos era usar um caminhão guincho, grande e pesado, preparado com chapas de aço. A proteção serviria para resistir a tiros da polícia e, ao mesmo tempo, ajudar a derrubar os muros da prisão. O veículo teria janelas para tiros contra as forças de segurança.

Em 2014, o governo paulista detectou outro suposto esquema para o resgate de Marcola e mais três comparsas. Os criminosos planejavam utilizar dois helicópteros blindados, camuflados com as cores das aeronaves da Polícia Militar, para pousar no presídio e tirá-los de lá com o uso de uma cesta de resgate.

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