Por renda, estrangeiros viram motoristas de aplicativos em SP

Libanês e equatoriano são alguns condutores que rodam na cidade

William Cardoso
São Paulo | Agora

Seja pela sobrevivência ou como complemento de renda, estrangeiros estão assumindo o volante do transporte por aplicativo e rodando por toda a capital. Embora os aplicativos não divulguem números, é cada vez mais comum encontrar pessoas com sotaques variados.

O costa-riquenho Esteban Jesus Alvarado Abarca, 31, conheceu o Brasil há 11 anos e é casado com uma brasileira. Eles viviam no país da América Central até seis anos atrás, quando vieram para São Paulo.

"Sou formado em direito. A gente veio com a ideia de fazer pós-graduação, mas não deu certo. Tivemos muitos problemas para validar diplomas, e fiquei sem poder trabalhar."

Depois de diversas atividades, como corretagem de imóveis e passeador de cães, Abarca passou a jogar pôquer nas horas vagas e, desde agosto, é motorista da 99.

"Dentro do carro, tenho uma bandeirinha da Costa Rica. Isso ajuda a criar uma conversa com as pessoas. Elas ficam bem curiosas sobre o fato de eu ser um estrangeiro", diz o costa-riquenho.

Para ele, o trânsito é complicado, mas é possível encontrar uma saída. "A cidade é enorme e é difícil conhecer totalmente. O Waze ajuda."

Quando perguntam de onde Jorge Milan, 65, é, ele brinca. "Adivinha? Gosto de esfiha, quibe e, no meu país, Beirute é a nossa capital, não o lanche", diz aos passageiros o libanês, há 29 anos no Brasil.

Milan saiu do Líbano em 1989, fugindo da guerra. Antes de trabalhar na Uber, o libanês se dedicou ao comércio, trabalhando, entre outras coisas, com uma loja de roupas femininas no Shopping Light. "O problema é que o imposto é muito alto e, em dezembro, no Natal, o aluguel é dobrado", diz.

Por enquanto, é como motorista que sustenta a mulher e os dois filhos. "É um serviço que ajuda a muitas pessoas desempregadas. Tem engenheiros, advogados, que me perguntam sobre o trabalho. Fazemos amizade." 

O equatoriano Alfonso Bolivar Ramirez Perez, 30, produtor de cinema e televisão, chegou ao Brasil há cerca de um ano e meio para gravar uma série da Netflix. Ele conta que encontrou no trabalho como motorista de aplicativo de transporte uma forma de conseguir grana suficiente para tocar a vida na capital paulista.

"Normalmente, pela característica do meu trabalho, não daria tempo para ter um emprego de oito horas diárias", afirma Perez, que trabalha com o aplicativo Uber.

Ele diz que as pessoas logo notam que ele não é brasileiro e sempre perguntam de onde é, o que veio fazer e se está gostando do país.

O produtor equatoriano afirma que uma mudança de perfil na sociedade local tem chamado a sua atenção. "Os interesses sociais e coletivos se perderam, só valem os individuais. Isso influencia na forma como vivem as pessoas aqui", afirma o motorista.

Segundo ele, são três características que tem exercitado no trânsito da capital: paciência, tolerância e respeito. "Se não tiver isso, é impossível viver em uma cidade tão grande", afirma.

O equatoriano conta ainda que entre as viagens com passageiros que já fez pelo Uber, duas foram com compatriotas, a quem reconheceu pelo sotaque. 

nigeriano Samuel Alamata, 27 anos, exerce uma série de atividades. Ele é webdesigner, contador, músico e, há quatro meses, se tornou motorista da 99. "Sempre gostei de dirigir, então decidi pegar o carro para aumentar a renda", diz.

Alamata vive há cinco anos no Brasil. Ele também tem um vasto currículo de países por onde já passou. Fora a Nigéria, de onde saiu aos 16 anos, já morou na Polônia, Catar, Índia, África do Sul e Inglaterra.

Decidiu ficar aqui pelas oportunidades. É casado com uma brasileira e pai de um casal de gêmeos. "O Brasil é um país livre. Se quiser ganhar dinheiro trabalhando, vai ganhar." 

A 99 tem um programa para estrangeiros. A plataforma foi aberta em 20 de junho, no Dia Mundial do Refugiado. Na ocasião, foi firmado um acordo com o Instituto Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado).

Segundo a 99, o instituto oferece cursos de português, qualificação profissional e ações culturais para os refugiados. Já o app tem parcerias com locadoras para ajudar os imigrantes com aluguel de carros por preços menores e bônus especiais.

Os estrangeiros que queiram trabalhar como motorista de aplicativo no Brasil precisam ter CNH com EAR (indicativo de que exerce atividade remunerada). 

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