Descrição de chapéu Agora

Quartel histórico no Parque Dom Pedro está abandonado na região central de SP

Tombado, imóvel que já abrigou Exército e PM está deteriorado e sujo

Luciano Cavenagui
São Paulo | Agora

Um quartel no Parque Dom Pedro 2º, na região central da capital, é um retrato do abandono dos prédios históricos de São Paulo. Desativado desde 1997, o imóvel já foi símbolo da polícia paulista e do Exército, ocupando uma área de 15 mil m2. Hoje se resume a telhados quebrados, paredes prestes a ruir, acúmulo de entulho, cupins e infiltrações.

A combinação entre falta de investimentos e descaso com o patrimônio histórico foi corroendo a beleza do local, cuja primeira construção data de 1765, quando existia na área a chamada Chácara do Fonseca (leia ao lado).

O 3º Batalhão de Choque da PM foi o último a utilizar o prédio, instalando-se no local em 1995. Naquele ano, já eram visíveis os sinais de deterioração. Dois anos depois, os policiais deixaram o prédio, desocupado até hoje.

Casa branca com tapumes azuis nas janelas
Antigo quartel do exército está abandonado - Rivaldo Gomes/Folhapress

O quartel, tombado pelos órgãos estadual e municipal do patrimônio histórico, pertence ao governo do estado de São Paulo, sob a gestão Márcio França (PSB). Em 2012, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou um projeto de recuperação do quartel, que se tornaria um complexo cultural com o Museu Histórico da PM e uma Fábrica de Cultura. Mas nada saiu do papel.

Quem passa por ali se depara todos os dias com o cenário de degradação. “Parece que a cada dia o quartel está pior, apodrecendo. Não é um cenário muito agradável”, afirma o gerente comercial Adalberto Castro da Silva, 55 anos. “Eu sempre passo pela região e me lembro quando a PM ainda ocupava o lugar. Acho que foi deteriorando pouco a pouco. É uma pena para a memória da cidade.”

A opinião é compartilhada pelo comerciante Carlos Damasceno de Oliveira, 58 anos, que tem um estabelecimento na rua Frederico Alvarenga, perto do quartel. “Do jeito que está não pode continuar. Essa área abandonada desvaloriza ainda mais a região”, afirma. ​

A Secretaria de Segurança Pública, da gestão Márcio França (PSB), afirmou por meio de nota que os planos para o antigo quartel mudaram. A intenção agora é destinar o espaço como sede do 45º Batalhão da PM, que patrulha a região central e atualmente está em outro imóvel. Segundo a pasta, a obra está orçada em aproximadamente R$ 41 milhões, mas não há prazo para conclusão do trabalho.

A secretaria disse que o projeto arquitetônico de restauro foi apresentado aos órgãos de preservação do patrimônio histórico, tendo sido aprovado pelo representante do município. O órgão estadual, diz o governo, pediu mais detalhes sobre o projeto. A gestão França afirmou ainda que a Polícia Militar mantém esforços de preservação do espaço. Disse também que policiais do Batalhão de Choque fazem a segurança do local.

Reza a lenda que a área do quartel foi um presente de dom Pedro 1º para dona Domitila de Castro Canto e Mello, a marquesa de Santos. Quando estava em São Paulo, o imperador dormia no local e se encontrava com ela.

Oficialmente, a primeira planta do terreno data de 1765, quando existia no local a chamada Chácara do Fonseca, período em que foi construído o primeiro corpo da edificação principal, em taipa de pilão, tabique e pau a pique. “Ao longo dos anos, o edifício principal ganhou novos corpos laterais, em diferentes técnicas de construção, para permitir novos usos”, diz o historiador Carlos Fonseca. Abrigou um convento e um hospício.

A partir de 1905, o prédio foi adaptado para receber a Força Pública. Pertenceu ao Exército até 1992, quando foi transferido para a PM.

O quartel também tem uma história ligada ao esporte nacional. Lá, serviu o medalhista olímpico João do Pulo, que era sargento. No espaço há um ponto que mede a exata marca do recorde mundial que ele conseguiu no salto triplo, 17,89 metros.

Erramos: o texto foi alterado

João do Pulo foi recordista mundial do salto triplo, e não do salto em distância, como afirmava a reportagem. 
 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.