A queda de um avião de pequeno porte no bairro Casa Verde, na zona norte de São Paulo, assustou moradores e causou momentos de tensão na tarde desta sexta-feira (30). Ao menos duas pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas, segundo os Bombeiros.
Testemunhas afirmam que um forte estrondo foi sentido na região, seguido de um apagão.
A auxiliar administrativa Andreia Ribeiro, 42, trabalha em uma imobiliária vizinha às casas atingidas pela aeronave. Ela conta que, no momento do acidente, ouviu um estrondo, a casa tremeu e as luzes apagaram.
Na rua, as pessoas gritavam para correr, com medo de uma explosão da aeronave. “Quando a gente saiu na porta, o fogo já tava vindo. Chegou no hall de entrada. Larguei celular, bolsa, chave.”
O fogaréu chegou à avenida Braz Leme, onde fica um posto de gasolina que estava sendo abastecido por um caminhão-tanque.
O fotógrafo João Victor Siqueira, 24, tinha acabado de descer do ônibus quando ouviu o barulho da queda. Achou que fosse um transformador, até que viu a fumaça. "Aí pensei que um carro tinha explodido". Quando chegou ao bar onde o pai trabalha, na Braz Leme, viu as casas em chamas e um motorista sendo socorrido.
"Eu só ouvi o barulho de uma coisa caindo e depois uma explosão", conta o pai, Carlos, 54, dono do bar. "Quase não acreditei." Na tarde desta sexta, o bar ficou lotado de curiosos que comentavam a tragédia e se protegiam da forte chuva que caía na zona norte da cidade.
A aposentada Edneia Maria da Silva, 68, tinha ido ao mercado e deixado a neta, de 18 anos e que tem síndrome de Adem, em casa. Voltou desesperada com uma caixa de leite ao local quando ouviu o barulho do acidente. “Quando cheguei só gritava ‘a Leticia está sozinha dormindo’, mas não me deixavam passar.”
Raimunda da Cunha, 45, mora no andar de cima de Edneia. Empregada doméstica, ela chegou do trabalho por volta das 15h30 e estava deitada no sofá quando ouviu um estrondo. Desceu as escadas e encontrou a casa vizinha em chamas.
"Ajoelhei e fui orar, não tinha mais o que fazer. Comecei a ligar pros meus irmãos para me despedir deles", conta ela, com os olhos marejados. Ela tentava também arrombar a entrada da casa de Edneia, para ajudar a neta da aposentada.
Os bombeiros logo chegaram e as tiraram de casa, conta. "Minha filha mora em Portugal e ficou desesperada. Mas deus é fiel e não aconteceu nada". Ela afirma que deixou a casa toda aberta e que ainda não recebeu nenhuma orientação sobre se pode dormir no local hoje.
A mãe de um dos pilotos soube da notícia e chegou correndo ao local do acidente. Ela passou mal, desmaiou e precisou ser atendida pelos médicos do Samu.
O motorista Selmo da Silva, 44, não chegou a completar a corrida que pegou na Barra Funda, na sua primeira semana como Uber. No meio do caminho, seu carro foi atingindo pelo fogo da aeronave.
“Eu vi a morte, gente pegando fogo. Sorte que consegui tirar o cinto. Estou vivo e ainda não acredito no que aconteceu”, afirmou.
Silva o levava um passageiro para Santana, na zona norte. “Ele comentou que tinha que fazer um serviço ainda hoje, mesmo morando em Pirituba, que é ali perto. Você vê como são as coisas. Ele queimou as costas, o corpo todo”, disse o motorista.
Com os cabelos chamuscados e o cotovelo direito enfaixado, Silva disse que só seu irmão já sabia do acidente na tarde desta sexta. Ainda em choque, chorou ao lembrar da família. “Tenho três filhos e um netinho que vai fazer 4 anos, uma criança linda. Por Deus, eu consegui escapar.”
O Versa que ele dirigia era alugado e foi consumido pelo fogo. “Estou preocupado, não sei como resolver isso do carro, mas o que importa é que eu estou vivo.”
O motorista tinha o acidente como um filme que não saía de sua cabeça. “Nunca pensei que fosse ver gente pegando fogo e se queimando bem na minha frente”, disse.
Colaborou William Cardoso, do Agora
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