Testemunha fala em casas tremendo, estrondo e apagão após queda de avião em SP

Bairro da zona norte registrou clima tenso após a queda de uma aeronave nesta sexta (30)

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Vista da rua onde caiu o avião, na zona norte de São Paulo
Vista da rua onde caiu o avião, na zona norte de São Paulo - João Victor Siqueira/Divulgação
São Paulo

A queda de um avião de pequeno porte no bairro Casa Verde, na zona norte de São Paulo, assustou moradores e causou momentos de tensão na tarde desta sexta-feira (30). Ao menos duas pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas, segundo os Bombeiros.

Testemunhas afirmam que um forte estrondo foi sentido na região, seguido de um apagão. 

A auxiliar administrativa Andreia Ribeiro, 42, trabalha em uma imobiliária vizinha às casas atingidas pela aeronave. Ela conta que, no momento do acidente, ouviu um estrondo, a casa tremeu e as luzes apagaram.

Na rua, as pessoas gritavam para correr, com medo de uma explosão da aeronave. “Quando a gente saiu na porta, o fogo já tava vindo. Chegou no hall de entrada. Larguei celular, bolsa, chave.”

O fogaréu chegou à avenida Braz Leme, onde fica um posto de gasolina que estava sendo abastecido por um caminhão-tanque.

O fotógrafo João Victor Siqueira, 24, tinha acabado de descer do ônibus quando ouviu o barulho da queda. Achou que fosse um transformador, até que viu a fumaça. ​"Aí pensei que um carro tinha explodido". Quando chegou ao bar onde o pai trabalha, na Braz Leme, viu as casas em chamas e um motorista sendo socorrido.

"Eu só ouvi o barulho de uma coisa caindo e depois uma explosão", conta o pai, Carlos, 54, dono do bar. "Quase não acreditei." Na tarde desta sexta, o bar ficou lotado de curiosos que comentavam a tragédia e se protegiam da forte chuva que caía na zona norte da cidade.

A aposentada Edneia Maria da Silva, 68, tinha ido ao mercado e deixado a neta, de 18 anos e que tem síndrome de Adem, em casa. Voltou desesperada com uma caixa de leite ao local quando ouviu o barulho do acidente. “Quando cheguei só gritava ‘a Leticia está sozinha dormindo’, mas não me deixavam passar.” 

A aposentada Edneia Maria da Silva, 68, avó de Letícia, 18, que ficou ferida no acidente
A aposentada Edneia Maria da Silva, 68, avó de Letícia, 18, que ficou ferida no acidente - Thaiza Pauluze/Folhapress

Raimunda da Cunha, 45, mora no andar de cima de Edneia. Empregada doméstica, ela chegou do trabalho por volta das 15h30 e estava deitada no sofá quando ouviu um estrondo. Desceu as escadas e encontrou a casa vizinha em chamas.

"Ajoelhei e fui orar, não tinha mais o que fazer. Comecei a ligar pros meus irmãos para me despedir deles", conta ela, com os olhos marejados. Ela tentava também arrombar a entrada da casa de Edneia, para ajudar a neta da aposentada.

Os bombeiros logo chegaram e as tiraram de casa, conta. "Minha filha mora em Portugal e ficou desesperada. Mas deus é fiel e não aconteceu nada". Ela afirma que deixou a casa toda aberta e que ainda não recebeu nenhuma orientação sobre se pode dormir no local hoje.

A mãe de um dos pilotos soube da notícia e chegou correndo ao local do acidente. Ela passou mal, desmaiou e precisou ser atendida pelos médicos do Samu.

O motorista Selmo da Silva, 44, não chegou a completar a corrida que pegou na Barra Funda, na sua primeira semana como Uber. No meio do caminho, seu carro foi atingindo pelo fogo da aeronave. 

“Eu vi a morte, gente pegando fogo. Sorte que consegui tirar o cinto. Estou vivo e ainda não acredito no que aconteceu”, afirmou.

O motorista Selmo da Silva, 44, que não conseguiu concluir a corrida após queda de avião
O motorista Selmo da Silva, 44, que não conseguiu concluir a corrida após queda de avião - Thaiza Pauluze/Folhapress

Silva o levava um passageiro para Santana, na zona norte. “Ele comentou que tinha que fazer um serviço ainda hoje, mesmo morando em Pirituba, que é ali perto. Você vê como são as coisas. Ele queimou as costas, o corpo todo”, disse o motorista.

Com os cabelos chamuscados e o cotovelo direito enfaixado, Silva disse que só seu irmão já sabia do acidente na tarde desta sexta. Ainda em choque, chorou ao lembrar da família. “Tenho três filhos e um netinho que vai fazer 4 anos, uma criança linda. Por Deus, eu consegui escapar.”

O Versa que ele dirigia era alugado e foi consumido pelo fogo. “Estou preocupado, não sei como resolver isso do carro, mas o que importa é que eu estou vivo.”

O motorista tinha o acidente como um filme que não saía de sua cabeça. “Nunca pensei que fosse ver gente pegando fogo e se queimando bem na minha frente”, disse.

Colaborou William Cardoso, do Agora

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